Com uma inflação abaixo de 5% prevista para os próximos 12 meses e uma taxa Selic nominal de 11,25% ao ano, o Brasil tem, atualmente, juro real de 6,36% ao ano, o maior do mundo. O cálculo feito pelo economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira, já contabiliza o corte de um ponto percentual na Selic promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na noite da quarta-feira 12. Esse patamar de 6% é uma daquelas jabuticabas difíceis de serem digeridas pelos investidores estrangeiros, acostumados a juros negativos na União Europeia e nos Estados Unidos. De um total de 40 países pesquisados pela Infinity, apenas 11 têm taxas reais positivas, incluindo as nações emergentes que compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

A jabuticaba fica ainda mais azeda no paladar dos empresários brasileiros, que estão angustiados com a demora na recuperação da economia. “O Brasil tem pressa e há espaço para recuos ainda maiores da Selic”, afirma Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A boa notícia é que a aceleração no ritmo de corte dos juros vai, aos poucos, barateando o crédito para consumidores e empresas. A pesquisa mensal da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, em março, as taxas das operações de crédito caíram pela quarta vez consecutiva. Na média, as pessoas físicas pagam 8,07% ao mês (153,78% ao ano) e as jurídicas, 4,64% ao mês (72,33% ao ano).

No mesmo dia da reunião do Copom, o Bradesco anunciou um corte nas taxas das principais linhas de crédito. “A redução de um ponto na Selic é uma ótima notícia”, afirmou, em nota, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. “Mostra que estamos retomando o equilíbrio dos fundamentos econômicos a partir de uma agenda consistente de avanços construída passo a passo.” O executivo salienta, no entanto, que “as reformas modernizantes serão cruciais para consolidar essa tendência de volta à normalidade na economia com crescimento e avanços sociais.”

DIN1014-copon2No quesito reformas, o Banco Central (BC) foi explícito, em seu comunicado, ao incluir o tema dentre os riscos ao cenário inflacionário. “A aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia são relevantes para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros estrutural”, afirmou o colegiado do Copom. Na avaliação dos analistas, a tendência de queda dos juros é inexorável, mas os efeitos da lista de Fachin, que pediu a abertura de inquéritos contra mais de uma centena de políticos, não podem ser desprezados (leia reportagem aqui).

A expansão da oferta de crédito, com juros mais atraentes, é um dos pilares da retomada do crescimento econômico. Desde que assumiu o comando do BC, em junho do ano passado, Ilan Goldfajn reduziu a Selic em cinco reuniões do Copom – todas as decisões tiveram a unanimidade dos participantes. Na reunião de fevereiro, quando os dados inflacionários já se mostravam claramente benignos, Ilan e seus diretores perderam a oportunidade de intensificar o afrouxamento monetário, repetindo a dose de 0,75 ponto percentual. A boa notícia é que os cortes devem prosseguir em ritmo mais acelerado até o fim do ano, quando os juros básicos estarão em 8,5%, conforme previsão do mercado financeiro.

Se concretizado, esse cenário permitirá uma taxa real em torno de 4%, retirando o Brasil do topo da lista internacional dos maiores pagadores de juros. Essa liderança no ranking é classificada como “barbaridade” pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel. “Sem desatarmos o nó górdio dos juros elevados e da ‘secura’ de crédito existente, não retomaremos o crescimento na velocidade necessária para atendermos às necessidades do Brasil e de sua população”, afirma o empresário.

O fundamental é que o BC evite uma flexibilização dos juros num ritmo aquém do necessário, frustrando as expectativas dos agentes econômicos. “Se o empresário vislumbra uma economia fragilizada, sem demanda, ele simplesmente não investe”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “É melhor para ele aplicar em título público, com baixo risco.” Nesse contexto, a Fecomércio RJ defende incentivos ao consumo e ao investimento no país. “A redução continuada dos juros, aliada a reformas que incentivem contratações e melhorem o ambiente de negócios, é condição essencial à retomada do crescimento do crédito e da economia.”