Os juros futuros, que têm apresentado certa resistência aos movimentos de aversão ao risco, nesta segunda não conseguiram escapar da piora da percepção sobre ativos de economias emergentes, sobretudo moedas. Após oscilarem perto da estabilidade e encerrarem a manhã com viés de baixa, as taxas passaram a subir à tarde, acompanhando a piora do câmbio que deixou os R$ 4 para trás para encerrar na casa dos R$ 4,06. O movimento é visto ainda como ajuste e não tendência, sem afetar estruturalmente as apostas para a política monetária, embora a trajetória do dólar agora tenha de ser acompanhada de mais perto.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular na máxima de 5,46%, de 5,399% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 6,371% para 6,43%. O DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,93%, de 6,881%. A trajetória altista se deu num ambiente de fraca liquidez, típica das segundas-feiras. O DI janeiro de 2021, destaque da ponta curta, girou menos de 200 mil contratos, ante média de 288,9 mil nos últimos 30 dias.

Dado que a semana é de eventos importantes tanto aqui quanto no exterior, os investidores podem estar aguardando o desenrolar da agenda para definir suas posições e, enquanto isso, a trajetória do dólar é que serve de parâmetro para os DIs.

A moeda americana se fortaleceu ainda mais à tarde após declarações consideradas “hawkish” do presidente do Federal Reserve de Boston, Eric Rosengren, que vota nas reuniões sobre juros. Em entrevista à Bloomberg, ele disse que “não necessariamente” é preciso relaxar mais a política monetária nos Estados Unidos, no quadro atual. “É um sinal preocupante, pois estamos à véspera da divulgação da ata do Fomc e do discurso de Powell. A expectativa era de que declarações antes desses eventos fossem mais leves”, disse o economista Breno Martins, da Mongeral Aegon Investimentos. A ata do Fomc sai na quarta-feira e o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa na sexta no Simpósio Anual de Jackson Hole.

O ambiente para emergentes já vinha mais conturbado desde que o candidato da oposição kirchnerista Alberto Fernández, venceu as primárias das eleições presidenciais na Argentina, na semana passada. Para piorar, o ministro da Economia do país, Nicolás Dujovne, renunciou o cargo no fim de semana e Fernández declarou que o acordo firmado pelo atual governo para pagamento de dívidas junto ao FMI é “impossível de cumprir”. Como os mercados argentinos estão fechados por conta de feriado, o real, a lira e outras moedas emergentes foram os principais alvos de liquidação.