Os juros futuros acabaram fechando a terça-feira, 28, estáveis, após terem passado quase o dia em leve alta, mesmo com o dólar tendo se firmado em baixa no meio da tarde. Porém, em meio à definição dos ajustes, zeraram o avanço para fechar de lado e nas mínimas. A realização de lucros já não tinha muita força, com recomposição de pequena parte do prêmio devolvido desde sexta-feira em função do IPCA-15 de julho. Alguns fatores hoje acabaram favorecendo a discreta alta, com destaque para o saldo líquido do Caged bem acima do esperado, que, contudo não foi capaz de reverter o consenso de apostas no corte da Selic no Copom da próxima semana. O exterior também contribuiu com o clima de incertezas sobre o novo pacote fiscal dos EUA e avanço do coronavírus ameaçando a reabertura das economias.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 1,93%, de 1,928% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 fechou estável em 2,74%. O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 3,80%, de 3,783% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2024 terminou com taxa de 4,74%, de 4,753% ontem. Nos longos, a do DI para janeiro de 2027 passou de 6,263% para 6,27%.

“Tivemos um pouco de realização e um pouco do Caged atuando sobre a curva, apesar do efeito do Caged ter sido muito menor do que o do IPCA-15 na sexta-feira”, disse um gestor. O índice havia mostrado inflação de 0,30%, abaixo do piso das estimativas (0,35%). Já o Caged de junho teve fechamento líquido de apenas 10.984 vagas, muito menos do que a estimativa mais otimista da pesquisa do Projeções Broadcast, que indicava corte de 118 mil postos.

Apesar disso, o resultado não alterou o quadro de apostas para a Selic para o Copom da próxima semana. A curva segue precificando 80% de possibilidade de redução de 0,25 ponto porcentual, para 2%. Ao mesmo tempo em que o dado pode ser visto como reforço nos sinais da retomada da economia, há ressalvas que ajudam a explicar por que o efeito sobre a curva não foi relevante. Entre elas, a questão da base reprimida, o fato de que os números não captam o setor informal e de que os programas emergenciais do governo no combate à crise podem estar segurando as demissões, mas não se sabe como ficará o mercado de trabalho quando a ajuda for retirada.

Não por acaso, a pressão para que os programas sejam estendidos vem crescendo e para isso poderia haver alteração na regra do teto de gastos, que para o mercado é quase sagrada. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, tentativas de flexibilizar a regra têm partido de integrantes do próprio Executivo e servido para encorajar parlamentares e entidades na defesa por mais gastos.

“O teto de gastos é uma âncora chave para o perfil fiscal do Brasil. A introdução de mudanças ao teto de gastos levanta preocupações sobre a trajetória da dívida do Brasil e sobre as perspectivas de estabilização e redução gradual do nível de endividamento”, disse a vice-presidente e analista sênior da Moody’s, Samar Maziad.