Mesmo com a forte queda vista na segunda-feira, 20, os juros futuros renovaram o fôlego e voltaram a cair de forma expressiva nesta terça-feira, 21, dada a percepção do investidor de que, nos últimos dias, houve melhora no cenário político, em especial nas relações entre o Congresso e o Executivo, o que é visto como fundamental para a tramitação da reforma da Previdência. A perspectiva de que o texto a ser trabalhado pela Câmara mantenha a potência fiscal do projeto original perto de R$ 1 trilhão em dez anos, a mobilização dos parlamentares para votar rapidamente as Medidas Provisórias (MPs) de interesse do governo que vencem no dia 3 e a decisão do presidente Jair Bolsonaro de não participar dos atos em favor do governo no domingo, 26, foram alguns dos principais fatores a conduzir as taxas.

Com o rali das taxas entre a segunda-feira e a terça, está praticamente zerada na curva a precificação de alta da Selic este ano, com apenas 2 pontos-base, ante 16 pontos na sexta-feira, segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 encerrou a sessão regular em 8,95%, de 9,131% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 8,792% para 8,63%. A taxa do DI para janeiro de 2023 fechou em 8,05%, de 8,192%. Nas curtas, o DI para janeiro de 2021 fechou com taxa de 6,87%, mínima, de 6,971% no ajuste anterior.

Para o estrategista de Mercado da Harrison Investimentos Renan Sujii, o mercado de juros foi “do inferno ao céu” nos últimos dias em cima dos eventos políticos.

A notícia de que a Câmara buscava um projeto da Previdência com seu “DNA” assustou inicialmente por sugerir acirramento da disputa com o Executivo, mas as tensões foram se amenizando principalmente após o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) afirmar que a espinha dorsal não mudará no seu parecer.

A percepção de melhora na articulação e o fato de se voltar a tratar de datas na tramitação da Previdência é algo bem recebido pelo mercado, pois ajuda a orientar as expectativas. O presidente da comissão especial Marcelo Ramos (PR-AM) garantiu a manutenção do calendário, com apresentação do relatório até dia 15 de junho.

As mínimas do dia foram renovadas na reta final da sessão regular, com a informação de que, de acordo com o próprio presidente, Bolsonaro não vai participar das manifestações do domingo. A notícia é vista como um alívio, já que sua presença nos atos poderia inflamar ainda mais a crise política. “Poderia colocar até mesmo em risco as MPs”, disse Renan.

A expectativa pelas MPs nesta semana é grande, pois as votações são tidas como termômetro do apoio à Previdência.

A Câmara deve votar nesta terça a MP que trata da abertura total do setor aéreo para capital estrangeiro, pois o texto corre o risco de perder a validade na quarta-feira.

Já para a MP 870, que trata da reforma administrativa que organizou os ministérios da gestão Bolsonaro, a expectativa é de que seja votada nesta quarta.