O agravamento do quadro político na América do Sul penalizou os ativos da região e não poupou o mercado de renda fixa local. Os juros futuros subiram de forma generalizada, mas com mais força na ponta longa, que melhor reflete o humor dos investidores estrangeiros. Em meio à ainda indefinida situação política na Bolívia, o Chile espalhou cautela no segmento de moedas emergentes, em especial as latino-americanas, provocando inclinação da curva a termo. Internamente, os ruídos políticos também aumentaram, contribuindo para a postura defensiva dos investidores.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou com taxa de 4,57% tanto a sessão regular quanto a estendida, de 4,519% na segunda no ajuste. A do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,581% para 5,70% (regular) e 5,71% (estendida). O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 6,35% (regular) e 6,34% (estendida), de 6,201%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,69% (regular) e 6,68% (estendida), de 6,541%.

A questão do Chile foi o principal “driver” do mercado e pautou os negócios durante o dia todo, com a tese do “contágio” para o Brasil ganhando força, por mais que a perspectiva de reformas possa diferenciar a economia local. As taxas já estavam em alta pela manhã, pressionadas pela desvalorização do câmbio em meio ainda a uma reação à Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que mostrou que o volume de serviços prestados em setembro (1,2%) ante agosto subiu acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (1,10%). Durante a tarde, porém, esse impacto se dissipou, até porque não houve mudança no quadro de apostas para a Selic.

“A pressão sobre a moeda do Chile acabou contaminando todo o resto”, resumiu um gestor, explicando que como os ativos brasileiros têm maior liquidez, acabam sendo os principais alvos de liquidação em momentos de estresse. Pela manhã, a moeda americana atingiu patamar recorde de 800,10 pesos.

O Chile entrou no 26º dia de protestos contra o governo, com grande manifestação em Santiago e uma greve geral que paralisa as atividades na cidade costeira de Valparaíso e em outras partes do país. Os atos pedem reformas sociais e uma nova Constituição, enquanto agentes revisam para baixo projeções econômicas para o país.

Ainda que nesse contexto sul-americano o Brasil seja visto como o “caso mais leve” depois da soltura do ex-presidente Lula na sexta-feira, declarações como a do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cogitando a possibilidade de debate sobre uma “nova Constituinte”, não ajudam. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fala de Alcolumbre é uma sinalização “ruim” e pode gerar “insegurança” jurídica no País.