Quem já comprou um carro conhece o enredo. Depois de escolhido o modelo e a cor do veículo, começa a novela do financiamento. A parte mais dramática é o preenchimento da ficha de cadastro que, em seguida, é enviada por fax até o banco ou à financeira para aprovação do crédito. Agora, um novo sistema promete revolucionar o financiamento de veículos no País. A Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), que reúne as financeiras, e a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos (Fenabrave), que congrega os concessionários, se juntaram para lançar uma central de aprovação de crédito pela internet. Batizado de Clicar, o sistema vai unir as concessionárias, as financeiras e a central de verificação de cadastro da Serasa, empresa especializada na avaliação de crédito. Assim que o nome do comprador for digitado no sistema, as instituições financeiras cadastradas vão cruzar dados e fazer, cada uma, a sua oferta de taxa de juros. ?Será uma espécie de leilão reverso de juros?, explica o gaúcho Ricardo Malcon, presidente da Acrefi. ?Haverá uma concorrência entre as financeiras, que será vencida por quem oferecer a menor taxa ao cliente.?

A criação da Clicar é uma tentativa de contra-ataque das
financeiras aos bancos das montadoras. Como são parte de
gigantes da indústria mundial, eles captam recursos a um custo mais baixo que as financeiras brasileiras. Com isso, cobram juros menores do consumidor. A desvantagem é o valor da entrada. Para conceder uma boa taxa, os bancos das montadoras exigem uma entrada de até 50% do preço do veículo, como forma de reduzir o risco. ?Nossas taxas são nacionais, enquanto as financeiras atuam mais regionalmente?, argumenta José Romélio Ribeiro, diretor executivo da Anef, a associação que reúne os bancos das montadoras. ?Oferecer juro baixo no centro financeiro de São Paulo é fácil. Quero ver financiar lá no Acre.?

Jogo de cintura. Já as financeiras oferecem planos com entrada a partir de 20% do valor do bem. ?O banco da montadora sai com um pacote completo e nem sempre tem a melhor combinação entre prazo e taxa de juro?, afirma Jayme Antonio dos Santos, diretor executivo do banco Dibens e um dos idealizadores da Clicar. ?Nós, financeiras, temos de ter jogo de cintura para brigar pelo mercado.? Mercado, aliás, que não pode ser desprezado. No ano passado foram vendidos 2,275 milhões de veículos no País ? somando carros, caminhonetes, caminhões, ônibus e motos ?, dos quais 76% foram financiados via crédito direto ao consumidor (CDC) ou leasing. ?O volume de crédito é de R$ 10 bilhões por ano?, diz Santos.

O serviço será oferecido gratuitamente para todas as 4.587 concessionárias do País. Para acessá-lo, basta estar conectado à internet. A conta será paga pelas instituições financeiras, que ganharão com o aumento de produtividade. A cada operação fechada, a financeira repassa uma taxa para a Clicar, que pagará seus fornecedores: a Serasa e a Disoft, empresa que desenvolveu o produto. ?As financeiras terão uma bela economia?, avalia Hugo Maia, presidente da Fenabrave. ?Hoje, tem bancos com até 100 linhas telefônicas só para receber as fichas de crédito. Com a Clicar, tudo será automático.? O sistema começa a operar em outubro em São Paulo e será expandido para as outras regiões do Brasil em novembro. A previsão da Acrefi é que, até o final do ano, 5% do volume dos financiamentos de veículos passe pela Clicar. Os idealizadores do projeto já trabalham com a idéia de ampliá-lo para outras áreas. ?No futuro, pensamos em expandir o serviço para as companhias de seguro?, afirma Piva.