Os juros futuros encerraram a semana em queda, refletindo o efeito positivo do corte de juros anunciado pelo Banco da China e o recuo nos rendimentos dos Treasuries. O impacto da medida da China amparou também a alta de commodities como minério e petróleo, favorecendo ativos de países exportadores como o Brasil, mas como o dólar teve baixa consistente, neutralizou qualquer impacto negativo das matérias-primas sobre a curva.

Outro vetor baixista, principalmente nas taxas de inflação implícitas, vem da proposta do governo de unificar a alíquota de ICMS em 17% para energia, combustíveis, telecomunicações e transportes, pelo expressivo potencial de alívio na inflação. Na semana, o saldo é de desinclinação para a curva.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a etapa regular em 13,27%, de 13,284% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024, em 12,79%, de 12,871%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,09%, de 12,219%.

A autoridade monetária do país asiático reduziu a taxa de referência a empréstimos de longo prazo de 4,6% para 4,45%, alimentando o apetite pelo risco logo na abertura. Como destaca a Tendências Consultoria, a decisão reforça a aposta em políticas estimulativas para apoiar a economia, em especial o setor imobiliário, muito afetada pelas medidas de restrição implementadas após o aumento de casos de covid.

“A China tem forte efeito sobre o câmbio e traz atratividade de fluxos para a Bolsa e renda fixa”, comentou o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.

Ele lembra ainda que a curva americana está fechando bastante, como reflexo do risco de recessão. “Mal começou o aperto do Fed e já temos a curva quase flattening nas taxas de 10 e 2 anos”, observou. O diferencial entre os yields das T-Notes de 10 e 2 anos que era de 33 pontos-base no começo de maio já está por volta de 20 pontos. O movimento é puxado principalmente pelo papel de 10 anos, que vem se afastando paulatinamente dos 3%, nesta sexta marcando 2,78% no fim da tarde.

Por aqui, o mercado tenta se antecipar ao impacto favorável para a queda da inflação se aprovado o projeto de lei complementar que estabelece um teto de 17% para o ICMS sobre energia, combustíveis e telecomunicações. O potencial é estimado pela ASA Investments em até 1,2 ponto porcentual no IPCA de 2022, mas o BTG calcula que pode chegar a 1,39 ponto. Tais perspectivas vêm empurrando para baixo as taxas de inflação implícitas via NTN-B e contratos DAP (futuro de Cupom de IPCA – derivativo usado para precificação do IPCA) nos últimos dias. Na quinta, a implícita da NTN-B 2023, que indica a expectativa de inflação para 2022, caiu de 7,65% para 7,22%.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer votar o projeto na terça-feira, mas as perdas de arrecadação, que podem chegar a R$ 70 bilhões, aos entes regionais devem gerar uma queda de braço entre governadores, prefeitos e o governo federal. “O projeto é problemático e os governadores vão judicializar, mas acredito que algum tipo de intervenção em preços vá sair”, disse Lima.