Os juros futuros terminaram a terça-feira em queda. As taxas curtas e, principalmente, as do miolo, tiveram recuo firme desde cedo, com o mercado digerindo a ideia reforçada no documento de que o Comitê de Política Monetária (Copom) encerrará o ciclo de alta da Selic antes que esta alcance o chamado patamar neutro, mantendo algum nível de estímulo.

As apostas de aperto monetário mais forte no Copom de junho, de 1 ponto porcentual, se enfraqueceram, na medida em que os diretores endossaram a intenção de aplicar novo aumento de 0,75 ponto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio ligeiramente acima das estimativas, mas sem comprometer as projeções de inflação para 2022, agora horizonte da política monetária nos próximos meses.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,78% (4,849% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2023, em 6,505%, de 6,653% na segunda-feira. O DI para janeiro de 2025 passou de 8,165% para 8,04% e a do DI para janeiro de 2027, de 8,714% para 8,66%.

As longas subiam pela manhã, pressionadas pelo avanço do dólar e do rendimento dos Treasuries, mas à tarde a moeda norte-americana passou a cair, devolvendo a ponta longa para os ajustes de segunda-feira, enquanto os demais trechos mantiveram-se sob a influência da ata do Copom.

“O mercado comprou a ideia de um ciclo menor, mas acredito que vai acabar sendo maior do que se imagina. O mundo todo está preocupado com a inflação”, disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, disse que o mercado viu a ata mais “dove” do que o comunicado. “A ata garantiu mais 75 pontos, mas não garantiu nada à frente”, escreveu.

O destaque da ata foi o parágrafo 14, no qual o Copom reitera o recado do comunicado de que o processo de normalização da Selic será “parcial”, argumentando que um ajuste total poderia levar as expectativas de inflação para muito abaixo da meta. “Elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções consideravelmente abaixo da meta de inflação no horizonte relevante”, afirma o texto.

Na avaliação do estrategista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o mercado vinha muito pressionado por fatores técnicos nos últimos dias, com investidores montando posições tomadas em DI como hedge para ficarem vendidos em dólar, o que ajudou a potencializar a reação nesta terça à ata e ao IPCA. “O IPCA em 12 meses veio alto, mas a dinâmica parece ser favorável, pois a inflação não parece estar espalhada”, afirmou.

O índice subiu 0,31% em abril e ficou pouco acima da mediana das previsões de 0,29%, com a taxa em 12 meses passando de 6,10%, em março, para 6,76% em abril. Alguns especialistas alertam que esse movimento está contaminado pelos números atípicos de deflação de 2020 – em abril do ano passado foi de -0,31%. A Capital Economics observa que o choque de alimentos está dando mais sinais de dissipação, com a menor taxa em 12 meses desde setembro (15,54%). “A alta dos preços dos alimentos já está se dissipando, a de energia deve seguir o mesmo caminho depois e a inflação subjacente está modesta. Assim, o índice geral deve desacelerar drasticamente no final deste ano”, afirmam os profissionais da consultoria.