Neste momento, graças a um cidadão que ninguém conhecia até 2020, chamado Arthur Lira, quem quer o impeachment pode esperar sentado. De toda forma, 18 juristas, liderados por Miguel Reale Jr. — o mesmo por trás de pedido idêntico contra a então presidente Dilma Rousseff —, protocolaram na quarta-feira (8) a demanda junto à Câmara dos Deputados. O documento se baseia nas apurações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Vai se juntar a outros 140 pedidos de impeachment, protocolados na digníssima Casa desde os tempos em que Rodrigo Maia a presidia. De acordo com o texto da vez, “é indubitavelmente de Bolsonaro a responsabilidade pela imensa dimensão que tomou a pandemia, que não teria sido dessa grandeza não fosse a arquitetura da política e o comportamento adotados pelo presidente”. Verdade? Provavelmente sim. Vai dar em algo? Provavelmente não.

PETRÓLEO AINDA VAI NOS ASSOMBAR POR DÉCADAS
Opep ensina a ler o mundo — em quatro tópicos

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CENA 1. Existem duas formas de ler o mundo. A inocente. A real. Para entender a real, será preciso voltar até o dia 15 de novembro, quando o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep, ou Opec na sigla em inglês), Mohammad Barkindo, disse que a indústria de petróleo & gás havia sido pela primeira vez alvo claro numa discussão ambiental de porte, como a COP26. Ficou claro, segundo ele, que os insumos do setor que representa não serão mais bem-vindos. Parecia capitulação: “Os produtores de petróleo terão muito a fazer”, disse Barkindo.

CENA 2. Uma leitura rasa e apressada pode sugerir fragilidade. Nada mais errado. O que a Opep fez foi explicitar um sonho da COP26, mas não uma realidade. Os países produtores e exportadores de petróleo perceberam — mas não disseram naquele momento, em novembro — um misto de inércia, apatia e paralisia dos principais players neste tabuleiro: China e Estados Unidos, que nunca se comprometem com nada. Foi a senha para a Opep atacar agora.

CENA 3. Dia 5 de dezembro, em Milão, Barkindo afirmou nas entrelinhas que viu a COP26 fraquejar. Segundo ele, a Opep projeta que petróleo & gás ainda vão representar pelo menos 50% da matriz energética do planeta em 2045. “E em todos os pronunciamentos que recebemos de Glasgow, na COP26, ainda não vimos nenhum roteiro ou plano concreto de como substituir esses 50%”, disse. “Pelo menos não sem criar uma turbulência sem precedentes nos mercados de energia.” Resumindo: petróleo e gás serão necessários em um futuro previsível e longo.

CENA 4. Três dias depois, na quarta-feira (8), durante o Congresso Mundial do Petróleo, em Houston (EUA), Barkindo disse que as corporações do segmento deverão investir US$ 11,8 trilhões até 2045 para atender a demanda futura. “Se esses investimentos não forem feitos, não afetará apenas produtores, mas também os consumidores.” Traduzindo: o discurso ambiental ainda perde, feio, da real politik quando o tema é a matriz energética global.

ESTE MINISTRO É SEU
“Melhor perder a vida que a liberdade”

Frase dita pelo insolente da vez. Um profissional desconhecido que passou a ocupar o cargo de ministro, tem formação em medicina e por acaso recebeu o registro de Marcelo Queiroga. Este senhor é seu ministro da Saúde. Sim, seu se você é um dos 57 milhões de brasileiros que escolheram Bolsonaro. Para azar de todos os demais, ele também é seu ministro. Se qualquer coisa a perder fosse ele, tudo bem. Mas num país em que caminhamos para 620 mil mortos a frase é assassina. Foi pronunciada na terça-feira (7) quando o governo federal anunciou que exigirá quarentena de cinco dias para viajantes não vacinados, ignorando recomendação da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que defendia a adoção do Passaporte da Vacina, documento atestando ciclo vacinal completo. O ministro ignorou. “Não se pode discriminar as pessoas entre vacinadas e não vacinadas”, afirmou. “Às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade.” Já no dia seguinte, São Paulo, estado que comandou o Brasil a ter imunizantes, anunciou que vai exigir Passaporte da Vacina a partir do dia 16 (quinta-feira). No Twitter, o governador João Doria afirmou que se até quarta-feira (15) o governo federal não adotar o Passaporte “São Paulo adotará a obrigatoriedade para todo o estado”.

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“Correção faz muito. Mas o incentivo faz mais” Johann Wolfgang Van Goethe (1749-1832), autor alemão.

FIM DO HOME OFFICE?
Volta ao batente presencial

Pesquisa da Kastle Systems, empresa americana de segurança condominial corporativa, mostra que as taxa de ocupação de grandes escritórios nas dez principais cidades dos Estados Unidos atingiu o maior nível desde março do ano passado, início da pandemia global de coronavírus. O porcentual chegou a 40,6% — comparado a 100% de março de 2020 e na casa dos 19% em março deste ano. Para quem está curtindo o home office, a boa notícia (se existe uma) é que a volta aos escritórios ajudará a movimentar segmentos estagnados da economia. Nicholas Colas, cofundador da DataTrek Research, afirmou a agência Reuters na quarta-feira (8) que a empresa notou aumento “surpreendente” na ocupação de escritórios na última semana, apesar das notícias da variante ômicron do coronavírus. “Mais funcionários de escritório significam mais demanda por serviços auxiliares em grandes áreas metropolitanas e, como resultado, melhores tendências de taxa emprego.”

2,8 mortos por Covid no Brasil para cada 1 milhão de habitantes. É o 10º país na lista global, liderada pelo Peru (6 mortos por 1 milhão). À frente da média dos EUA (2,3)

TRANSIÇÃO
Alemanha sob nova direção

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Depois de 16 anos comandada por Angela Merkel, a Alemanha tem novo líder político desde quarta-feira (8), quando Olaf Scholz, de centro-esquerda, tomou posse como primeiro-ministro da maior economia europeia. Seu desafio mais imediato será combater a nova onda de Covid-19.

Fabio X