Já pensou se o final de semana tivesse um dia a mais? A rotina de trabalhar quatro dias e folgar três é o desejo de 81% dos trabalhadores brasileiros, de acordo com pesquisa feita pela empresa de recrutamento Empregos.com.br.

O levantamento, que ouviu mais de 2,5 mil trabalhadores brasileiros, mostrou que 13% dos profissionais têm dúvidas em relação a esse modelo e 6% acreditam que não funciona. Mas será que essa minoria tem razão? 

Como se ganha fazendo apenas o mínimo necessário no trabalho

De acordo com especialistas, pesquisas e experiências mundo afora, a semana de trabalho 4×3 (4 dias trabalhados e 3 de folga) além de atuar positivamente no bem-estar do funcionário, também pode trazer benefícios à corporação. 

Uma pessoa que trabalha de segunda a quinta-feira comparada a outra que trabalha de segunda a sexta tem redução de 20% no trabalho, que é convertido em descanso. “Quando você aumenta a taxa de descanso e lazer, você também aumenta a taxa de serotonina no cérebro, que é o hormônio da felicidade”, explica Sérgio Amad, CEO da startup de RH fiter e neurocientista.

Se esse dia off extra estiver associado a uma boa noite de sono e prática ou hábito saudável, os ganhos são ainda maiores. “Fazer um exercício, por exemplo, causa produção de dopamina e endorfina, e pode aumentar ainda mais a sensação de felicidade e melhora a saúde mental”, complementa Amad.

O neurocientista cita ainda pesquisa publicada pela Harvard Business Review que mostrou que colaboradores felizes são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.

Baseada em outros estudos globais, Tatiana Pimenta, CEO e Cofundadora da Vittude, que desenvolve programas de saúde mental para empresas, também vê com bons olhos o modelo de trabalho. “Uma semana de 4 dias pode resultar em uma melhora da qualidade de vida, redução de afastamentos e também menor incidência de doenças mentais”.

O especialista em neurociência aponta, contudo, que em alguns casos a diminuição de carga horária pode ter efeito contrário nos funcionários. “Em uma fábrica, por exemplo, em que as pessoas já trabalham com quadro subdimensionado, que exercem um trabalho mecânico, sinestésico, se você fizer uma redução da carga horária, vai ter sobrecarga de trabalho, e aumentar inclusive o estresse e o cortisol no ambiente.” 

Pimenta explica que quando estamos cansados, sobrecarregados, estressados, esgotados ou mesmo diante de quadros de adoecimento emocional, como a depressão e os transtornos de ansiedade, uma parte do nosso cérebro conhecida como córtex pré-frontal é bastante afetada.

“Quando nossa saúde mental não está em dia, ou estamos muito cansados, todas essas funções de atenção, produtividade, foco, etc, sofrem prejuízos em níveis diferentes.”

Jornada de trabalho 4×3 no mundo

Entre 2015 e 2019, 2,5 mil funcionários na Islândia tiveram a jornada de trabalho semanal reduzida para 35 horas em quatro dias úteis. O resultado mostrou colaboradores mais produtivos, engajados e motivados.

As universidades Oxford, Cambridge e Boston College, nos Estados Unidos, também estão fazendo esse experimento com 3 mil profissionais até dezembro de 2022. 

A experiência gerou, inclusive, o movimento 4 Day Week Global, que defende uma semana mais curta. Empresas globais como Microsoft e Unilever já adotam essa prática

No Brasil

Por aqui, as empresas parecem resistir à nova tendência. Apenas 4,9% das 251 empresas que participaram do estudo da Empregos.com.br são a favor da jornada reduzida, enquanto 25% se posicionam contra e 71,1% ainda não têm um posicionamento definido sobre o tema. 

Mesmo políticas de horários flexíveis e a “short friday” (que reduz o horário de trabalho na sexta-feira) são práticas pouco vistas no Brasil, com 15,6% e 1,9% das empresas adotando esses modelos, segundo a pesquisa.

Atualmente, a Consolidação das Leis do Trabalho, ou, simplesmente CLT, prevê que a jornada máxima seja de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Essas horas podem ser adaptadas para turnos de revezamento e outras escalas, conforme explicam Guilherme Feldmann, sócio fundador da Feldmann Advocacia, e Juliana Philippi Bressane, advogada colaboradora da equipe.

Dessa forma, nada impede que a jornada 4×3 seja adotada pelos brasileiros. “Mas, estamos falando de uma jornada especial, que implica em redução da jornada de trabalho tradicional: ao invés de 44 horas semanais cumpridas, serão 32 (8 horas diárias, durante 4 dias; ou, no máximo, 4 dias de 10 horas)”, observam eles.

A implementação requer um acordo entre empregador e funcionário, já que se trata de uma jornada atípica. 

Além disso, por lei, não pode haver redução de salário. “A não ser que seja assinado um novo aditivo no contrato de trabalho com anuência do sindicato da categoria”, afirmam Feldmann e Bressane. “Se o empregador almeja apenas reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário, não há qualquer vedação para a prática”, finalizam.