Conciliar o mundo digital, que é praticamente sem fronteiras, com o luxo, ancorado na exclusividade, pode parecer contraditório. Mas isso está mudando. Na segunda-feira 22, o conglomerado suíço Richemont, detentor de marcas como Cartier, Van Cleef & Arpels, Piaget e Chloé, com faturamento de € 10,7 bilhões, ofereceu € 2,7 bilhões pelo controle do grupo anglo-italiano Yoox Net-a-Porter (YNAP), um dos principais nomes do mercado online de luxo, com oito milhões de clientes em mais de 180 países. A empresa opera sites próprios, como Yoox.com e Mrporter.com, e os portais de mais 30 companhias, dentre elas Armani, Valentino e Balenciaga.

Rupert, presidente da Richemont: “O objetivo é fortalecer a presença No canal digital” (Crédito:Divulgação)

A oferta pública da Richemont – que já é a maior acionista da YNAP, detendo mais de 50% da empresa –, representa € 38 por ação, valor 25% maior do que o preço de fechamento na sexta anterior ao anúncio, na bolsa de Milão, onde estão listadas as ações da YNAP. O negócio está sujeito à aprovação dos acionistas e das autoridades regulatórias. “Com cada vez mais consumidores comprando bens de luxo pela internet, mudança trazida principalmente pelos millenials (nascidos por volta de 1980 a 2000), a aquisição da YNAP permite à Richemont aprimorar sua estratégia online de forma significativa, considerando a ampla experiência da Yoox Net-a-Porter, pioneira nesse segmento”, diz à DINHEIRO Jorge Martin, analista da divisão global de acessórios pessoais da consultoria Euromonitor.

O desafio de trazer clientes com alto poder aquisitivo para a internet é vital para a Richemont. A companhia teve queda de 4% nas vendas do ano fiscal encerrado em março de 2017, totalizando € 10,7 bilhões, ante os € 11 bilhões do ano anterior. Com o possível controle da YNAP, o fundador e presidente da Richemont, Johann Rupert, declarou à imprensa que “o objetivo é fortalecer a presença e o foco no canal digital, que está se tornando importante para os consumidores”. A receita da YNAP foi de € 2,1 bilhões em 2017, indicam os resultados preliminares.

Tradição: o plano é ampliar o digital sem abrir mão da experiência da loja física (Crédito:Divulgação)

No ano passado, o mercado de luxo cresceu 5%, com vendas de € 1,2 trilhão, de acordo a consultoria Bain & Company . As transações online correspondem a pouco mais de 5% desse total, mas podem chegar a estimados 25% do mercado até 2025. Naturalmente, os grandes grupos correm atrás. Em junho do ano passado, o francês LVMH, conglomerado de luxo número um do mundo, lançou sua primeira plataforma online, a “24 Sèvres”. A oferta da Richemont foi bem-recebida pelo CEO da YNAP, Federico Marchetti. Ele se dispôs a vender seus 4% do capital da empresa. A joia virtual da Richemont vai continuar, segundo Marchetti, a ser gerenciada como uma companhia separada.