Embora a epidemia do novo coronavírus tenha despertado o medo em todo o mundo, ela também conseguiu renovar o apetite pelos filmes, videogames e séries sobre o assunto.

Nas últimas semanas, o filme “Contágio”, de Steven Soderbergh, lançado em 2011, está em primeiro lugar nos downloads do iTunes. Ele conta a história de uma mulher de negócios, interpretada por Gwyneth Paltrow, que involuntariamente leva ao Estados Unidos um vírus contraído aparentemente por meio de um cozinheiro na Ásia.

O cenário mostra muitas semelhanças com o COVID-19, que surgiu em dezembro na cidade de Wuhan, no área central da China.

Como no filme, o vírus foi transmitido aos homens por animais antes de se propagar. Em “Contágio”, o vírus mata exponencialmente cerca de 26 milhões de pessoas em todo o mundo somente no primeiro mês. Número que, ainda bem, não coincidem com o caso do novo coronavírus.

O filme tem chamado a atenção de muitos telespectadores. Na última semana de janeiro, “Contágio” esteve entre as dez primeiras colocações da lista de classificação britânica do iTunes.

Essa semana voltou a ocupar o 55º lugar na lista do Reino Unido, mas continuou em lugar de destaque em muitos países: em 7º, em Cingapura; 20º, nos Estados Unidos; e 24º, na Austrália.

Em Hong Kong, onde há uma cena no filme, ele aparece em 8º lugar na lista de telespectadores. Nas últimas semanas, essa região autônoma – que teve duas mortes registradas por causa do COVID-19 – teve momentos parecidos com os do longa. Os moradores, em pânico, foram aos supermercados para se abastecer de papel higiênico, arroz e produtos domésticos.

– Aliviar o estresse –

A população da megalópole continua traumatizada desde a SARS, que entre 2002 e 2003 foi responsável por 299 mortes. Enquanto os habitantes de Hong Kong estão assustados, o resto do planeta parece ter curiosidade em ver, por meio de Hollywood, como seria uma pandemia mundial.

“Esse interesse repentino por tudo relacionado a epidemias e aos vírus é uma forma das pessoas lidarem melhor com o que está acontecendo”, disse Robert Bartholomew à AFP, um médico sociólogo que estuda o fenômeno da histeria coletiva.

“Falar de eventos traumáticos pode ajudar as pessoas a ficarem mais calmas e aliviar o seu estresse”, explica.

Mas não é só em filmes que o tema aparece. Desde o seu lançamento há oito anos, o jogo “Plague Inc”, no qual um vírus se propaga por todo o planeta, se tornou muito popular. E cada vez que aparecem epidemias como a COVID-19 ou o Ebola, o número de downloads aumenta, segundo Ndemic Creations, a empresa criadora dos jogos.

“Com cada epidemia, vemos um aumento no número de jogadores. As pessoas querem saber como as doenças são transmitidas e entender os aspectos complexos das epidemias”, ressaltou a empresa em comunicado, reforçando que “‘Plague Inc’ é um jogo e não um modelo científico”.

– Sair adiante –

No último ano, Extra Credits, um canal educativo no YouTube, produziu uma série de filmes de animação para o centenário da chamada “gripe espanhola”, que em 1918 causou milhões de mortes.

O número de telespectadores da série disparou, principalmente na Ásia sul-oriental desde a aparição do novo coronavírus, afirmou Robert Rath, que vive em Hong Kong e é o autor do roteiro da série.

Por sua vez, a Netflix não teria uma melhor época para lançar a série documental “Pandemia”, que mostra a preparação, a nível internacional, para enfrentar um novo vírus.

“As pessoas sempre dizem que ‘Pandemia’ foi lançada no momento perfeito”, escreveu Sheri Fink, jornalista e médica, no Twitter, que é a produtora-executiva da série.