O complexo jogo entre XP e Itaú Unibanco prossegue, com vários novos lances. A XP voltou ao mercado nesta semana. Na quarta-feira (2), concluiu mais uma oferta subsequente (follow-on). Desta vez, captou US$ 1,2 bilhão por meio da venda de 31,6 milhões de ações. Desse total, 24,5 milhões pertenciam ao Itaú Unibanco e 7,13 milhões eram da própria XP. O preço de venda: US$ 39 por ação, um desconto de 5% em relação ao preço de fechamento da quarta-feira, de US$ 40,41.

Já era esperado. Na segunda-feira (30), a XP informou que faria follow-on para adquirir os 5% de participação acionária colocados à venda pelo Itaú Unibanco. O banco está segregando sua participação de 46% na XP de seus ativos, para destravar valor. Após vender uma parte de suas ações, o Itaú vai incorporar os 41% restantes em uma nova empresa, por enquanto denominada Newco.

Foi o segundo follow-on desde a abertura de capital, em dezembro de 2019. O primeiro, em julho deste ano, permitiu a uma das primeiras investidoras, a americana General Atlantic (private equity), levantar US$ 686 milhões, reduzindo sua fatia na XP.

O total de recursos a ser levantado pelos vendedores pode crescer: Itaú Unibanco e XP ofereceram aos compradores um lote adicional de 4,13 milhões de ações, que poderá movimentar mais US$ 160 milhões. Os US$ 278 milhões captados pela XP se destinam ao crescimento da empresa, com o lançamento de novos produtos, e para investimentos em potenciais aquisições. Já o Itaú levantou US$ 956 milhões com a venda.

O banco fez um excelente negócio. Ao câmbio da quarta-feira (2), a participação vendida pelo Itaú rendeu-lhe R$ 5,01 bilhões.Praticamente compensa os R$ 6 bilhões pagos pelo Itaú por 49% da XP, em maio de 2017. Pelo preço pago há três anos, os 41% remanescentes nos livros do Itaú valeriam R$ 5,3 bilhões. Pelo valor do follow-on, essa cifra subiu para R$ 51,4 bilhões, uma valorização de 860%. Ao retirar as ações da XP de seu portfólio e oferecê-las ao mercado, o Itaú conseguiu destravar esse valor.

DISPUTA ACIRRADA Qualquer que seja o nome definitivo da Newco, estará em várias bocas. A empresa de participações deve ser alvo de disputa acirrada. A Itaúsa, holding que controla o Itaú Unibanco, reafirmou o desejo de manter participação relevante nela, ao menos no curto prazo. No dia 27 de novembro, a XP anunciou que estuda uma maneira de se fundir com a Newco. E, na segunda-feira (30), a Itaúsa informou que “considera positivas” as propostas realizadas até agora pela XP e que vai apresentar as sugestões ao Conselho de Administração. Mas no longo prazo, a Itaúsa informou não considerar estratégica a participação.

Como tudo isso vai repercutir para os acionistas? Segundo o banco de investimentos americano Goldman Sachs, a fusão aumentaria o free float, a quantidade de ações da XP em circulação no mercado. Nos cálculos do banco, ele cresceria dos atuais 21% para 67%, criando riscos de um excesso de liquidez no curto prazo.

Sobre sua tese de investimento, o Goldman aponta como principais vantagens o posicionamento único da XP no mercado brasileiro, com fortes taxas de crescimento. Os riscos: fortalecimento da concorrência e necessidade de investimentos adicionais, limitando a expansão das margens. Por isso o Goldman segue com recomendação de manter as ações, com preço-alvo de US$ 50.