De um lado, os Estados Unidos, a maior potência econômica e militar no planeta. De outro, a Rússia e a China, as duas principais forças bélicas da Ásia. Como em um tabuleiro de War (tradicional jogo de estratégias lançado na década de 1970), o presidente americano Joe Biden quer aumentar a influência na região e reduzir a força do líder chinês Xi Jinping e do russo Vladimir Putin.

Além da tática geopolítica de preservação da democracia em países como Ucrânia e Taiwan, Biden mira a segurança comercial dos Estados Unidos nas próximas décadas. “A Casa Branca vai assinar um acordo econômico muito poderoso com países asiáticos”, afirmou, em Nova York, a secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo. “É uma prioridade para o presidente”, disse, na sexta-feira (10).

O foco do governo será em áreas como a coordenação de cadeias de suprimentos, controles de exportação e padrões para inteligência artificial. O plano Biden, que terá início no primeiro trimestre de 2022 e promete ser o maior acordo da história com a Ásia desde a Segunda Guerra, inclui não apenas o apoio americano a economias desenvolvidas, como Cingapura, Japão, Austrália e Nova Zelândia, mas também economias emergentes como Malásia, Tailândia e Vietnã.

O objetivo é financiar e coproduzir itens essenciais para sustentar a indústria americana, como alimentos processados e semicondutores. “Dentro dos próximos 12 meses queremos ter algo concreto na cooperação comercial”, afirmou Gina.

A aproximação dos Estados Unidos com economias asiáticas inclui também a promoção de projetos de infraestrutura na região, ampliação do acesso seguro e confiável à internet e alianças estratégicas militares com aliados do Pacífico para garantir a liberdade de navegação no Mar do Sul da China, onde Pequim tem ampliado o controle com a movimentação de mais de US$ 3 trilhões em comércio a cada ano.

O clima entre eles piorou na semana passada, depois que Putin e Jinping foram excluídos da Cúpula da Democracia, organizada pelo governo Biden, com 110 convidados.

Na avaliação do historiador britânico Adam Tooze, professor da Universidade Columbia, em Nova York, o abandono das estratégias de política externa pelo ex-presidente Donald Trump amplificou os desafios de Biden na região. Isso porque a Ásia, com mais de 2,2 bilhões de consumidores, é o principal polo econômico dos EUA, o maior destino das exportações americanas e o maior fornecedor de matérias-primas. “A estratégia do presidente americano será de manobrar para encontrar coalizões capazes de mudar o eixo das políticas que hoje estão sob controle das maiores potências regionais, a China e a Rússia”, afirmou Tooze, autor do livro Crashed, que conta a história da década que se seguiu à crise do subprime. “Biden não deve tensionar demais os interesses porque sabe que um conflito nesse momento pode ser ruim para toda a economia global.”

Biden, de fato, sabe que não está lidando com peixes pequenos. O Exército de Libertação Popular (ELP) chinês possui a maior marinha do mundo, caças de última tecnologia e um arsenal grande (e desconhecido) de armas nucleares. Além disso, o orçamento militar da China, que cresce a cada ano, chegou em US$ 200 bilhões para 2021. Com um olhar na diplomacia, o argumento do presidente americano é que criar acordos comerciais sempre foi o combustível para a evolução da humanidade.

AMÉRICA LATINA Ao mirar suas atenções para a Ásia, e tirar foco de outras regiões, como a América Latina, Biden cria um ambiente mais desafiador para o comércio exterior brasileiro, principalmente em tempos de diplomacia distorcida. Para o cientista político Oliver Stuenkel, coordenador de política internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), a expectativa é que não haverá uma relação bilateral produtiva entre Bolsonaro e Biden. “A política externa de Bolsonaro já causou estragos gigantescos, com crises inéditas com Alemanha, Argentina, China e França”, disse. “No caso dos Estados Unidos, Bolsonaro perdeu seu aliado mais relevante.” E agora eles buscam novos aliados.