Pense num candidato que, além de se apresentar como um outsider da política, ainda possui uma trajetória de vida de muita superação e um histórico profissional de combate à corrupção. Qual é a chance de ele se eleger presidente da República neste ano? Olhemos para três exemplos no período pós-redemocratização. Luiz Inácio Lula da Silva venceu duas eleições, em 2002 e 2006, com a narrativa do garoto pobre de Pernambuco, que virou metalúrgico em São Paulo, venceu na vida e subiu a rampa do Palácio do Planalto. Fernando Collor de Mello, em 1989, foi eleito presidente com a fantasia de “caçador de marajás”. E, mais recentemente, o empresário João Doria Jr. ganhou o pleito na maior cidade do País com o discurso do gestor que não é político. Eis que agora, a seis meses das eleições, surge um candidato que reúne essas três características, que serão detalhadas a seguir. O seu nome é Joaquim Benedito Barbosa Gomes.

1) Superação de vida: Mineiro de Paracatu, Barbosa é o primogênito de oito filhos de um pai pedreiro e uma mãe dona de casa. Com a separação dos pais, passou a ser arrimo de família e trabalhou, aos 16 anos, numa gráfica em Brasília. Formado em escolas públicas, obteve o bacharelado em Direito pela Universidade de Brasília e mestrado e doutorado em Paris. No ápice de sua carreira, foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2003, e se tornou o primeiro presidente negro do STF, em 2012.

2) Combate à corrupção: como ministro do STF, Barbosa se notabilizou no julgamento do Mensalão, que condenou toda a elite política do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Progressista (PP). Em 2009, protagonizou uma troca de insultos com o ministro Gilmar Mendes, acusando-o de “destruir a credibilidade do Judiciário brasileiro” e de manter “capangas” no Mato Grosso. Com uma imagem popular de herói e justiceiro, se aposentou precocemente do STF, em 2014, por causa de dores nas costas.

3) Novato na política: Aos 63 anos, Barbosa filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) no penúltimo dia do prazo previsto pela lei eleitoral. Curiosamente, foi no dia seguinte à decretação da prisão de Lula pelo juiz Sergio Moro. O ex-presidente do STF preferiu um ato discreto, sem uma cerimônia, deixando dúvidas sobre se a sua candidatura é para valer. Num contexto em que a maior parte dos eleitores rechaça os políticos, seu trunfo será o fato de ser um outsider, alguém que nunca disputou uma eleição. Sua rejeição, segundo a última pesquisa do Datafolha, é pequena se comparada à dos principais candidatos: 14%.

Com importantes características favoráveis, o potencial eleitoral de Barbosa definitivamente não deve ser menosprezado. Ele terá, no entanto, enormes desafios pela frente. Do ponto de vista médico, recairão dúvidas sobre suas condições físicas para suportar uma campanha intensa num país continental. A rotina de viagens de um candidato à Presidência da República é extenuante. No âmbito político, se não fizer coligações, seu partido terá poucos recursos e um tempo reduzido na propaganda política do rádio e da TV.

Em termos econômicos, a sua agenda é uma grande incógnita. Um bom caminho será explicitá-la logo e nomear, antecipadamente, seu braço direito na área. São informações importantes para ganhar ou perder o apoio do setor privado. Por fim, o maior obstáculo de todos. Sua língua ferina não costuma poupar adversários nem jornalistas. Neste aspecto, Barbosa se assemelha a Ciro Gomes (PDT), cuja incontinência verbal já lhe rendeu diversas derrotas. Numa campanha em que a sua vida pública e privada será devassada pela mídia e pelos demais candidatos, fica a dúvida: conseguirá, Joaquim Barbosa, preservar sua imagem – e sua popularidade – após a corrida eleitoral?