Milhares de jihadistas estrangeiros presentes na província de Idlib dizem que estão dispostos a lutar até a morte para defender seu último reduto na Síria, contra o qual as tropas do governo preparam uma grande ofensiva.

Desde 2015, Idlib, localizada no nordeste da Síria, perto da fronteira turca, concentra um grupo de milícias que lutam contra o regime de Damasco. De rebeldes moderados a islamitas e jihadistas ligados à Al-Qaeda ou vindos do exterior.

Entre os estrangeiros há combatentes uzbeques, chechenos e até uigures da região autônoma chinesa de Xinjiang.

Diante de uma ofensa que parece iminente, “essas pessoas não têm lugar para ir e estão dispostas a morrer”, declarou à AFP Sam Heller, analista do International Crisis Group (ICG).

“Eles são um verdadeiro obstáculo para qualquer solução” negociada, estimou.

Cerca de três milhões de pessoas, metade delas deslocadas, vivem na província de Idlib e nos redutos rebeldes das regiões vizinhas de Hama, Aleppo e Latakia, segundo a ONU.

Uma ofensiva em Idlib poderia forçar 800.000 pessoas a deixar suas casas e causar “uma catástrofe humanitária”, a pior do século XXI, teme as Nações Unidas.

Para evitar uma ofensiva devastadora, os três principais aliados das forças beligerantes – Rússia, Turquia e Irã – não conseguiram encontrar uma solução durante uma cúpula organizada na sexta-feira.

A Rússia exige que a Turquia, que apoia os rebeldes, pressione os grupos jihadistas para que se dissolvam.

– Uigures –

Os jihadistas estrangeiros, que não podem retornar aos seus países, e que são alvos no Afeganistão e no Paquistão, chegaram à Síria em 2013, dois anos após o início do conflito.

Muitos se juntaram ao grupo Estado Islâmico (EI), outros à Al-Qaeda e sua ex-milícia que lidera o grupo sírio Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que controla 60% de Idlib.

O maior contingente estrangeiro engrossa as fileiras do Partido Islâmico do Turquestão (TIP), cujos membros pertencem à minoria muçulmana uigur, fortemente reprimida na região chinesa de Xinjiang.

Eles lutaram no Afeganistão e depois expulsaram as tropas de Damasco de Idlib em 2015.

“Desde então, eles armazenaram armas e se impuseram como uma das facções mais poderosas do norte” da Síria, diz Heller.

Esta milícia, que tem entre 1.000 e vários milhares de combatentes, está presente nos arredores da cidade de Jisr al-Shughur, no sudoeste de Idlib, que foi bombardeada nos últimos dias.

Segundo Tore Hamming, especialista do Instituto Universitário Europeu, os uigures vão lutar ferozmente, provavelmente aliados ao HTS. “Eles têm a reputação de serem bons combatentes e são altamente respeitados no universo jihadista e rebelde”, indicou.

Incapaz de operar em Xinjiang, a perda de Idlib os privaria de um de seus principais “campos de batalha alternativos”, estimou Hamming.

– Uzbeques e chechenos –

Mas também há combatentes uzbeques que se juntaram a grupos próximos ao HTS, incluindo Katiba al-Tawhid wal Jihad liderado por Sirozhiddin Mujtarov, de 28 anos, também conhecido como Abu Saloh o Uzbeki, ou a brigada de Imam al-Bukhari.

Os uzbeques também ganharam experiência no campo com o Talibã ou Al-Qaeda, no Paquistão e no Afeganistão.

A brigada Imam al-Bukhari, cuja propaganda na internet mostra muitas crianças-soldado, foi qualificada este ano pelos Estados Unidos como um grupo “terrorista”.

Por sua parte, os jihadistas chechenos, com fama de serem os mais selvagens, estão organizados em duas entidades principais: Khund al-Sham e Akhnad Kavkaz. São veteranos das guerras na república do Cáucaso russo.

Muitos chegaram à Síria em 2012, casaram-se com sírias e constituíram famílias. Os especialistas assumem que farão todo o possível para defender sua nova casa.

Moscou não quer que eles voltem para a Chechênia. “Matá-los seria um ‘bônus psicológico’ para a Rússia”, diz Joanna Paraszczuk, do Instituto IHS Jane’s, sediado em Londres.

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