No município de São Roque, a 60 km da capital paulista, o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional tem algumas peculiaridades que o distinguem dos demais. É o primeiro terminal privado a ter permissão da Anac para pousos e decolagens de voos com destinos fora do País. Obra da construtora JHSF, maior grupo brasileiro dedicado a clientes de altíssima renda, ele foi concebido nos mínimos detalhes para atrair o crescente público da aviação executiva no Brasil. Sua decoração lembra o lobby de um hotel cinco estrelas (a JHSF construiu boa parte dos nove hotéis da rede Fasano) e oferece vantagens como o fácil acesso à capital e a simplificação de serviços, o que reduz o tempo gasto nos aeroportos comerciais, do despacho de bagagem aos trâmites de segurança. Em pouco mais de dois anos desde a sua criação, o Catarina já é o maior aeroporto nacional em aeronaves hangaradas, de acordo com dados da própria empresa, que está planejando uma expansão para triplicar sua capacidade. Segundo o presidente da JHSF, Thiago Alonso de Oliveira, o objetivo da companhia é abrigar até 250 aviões. Hoje são 80. Os atuais oito hangares passarão a ser 17. “A gente acabou se posicionando como a primeira escolha para atender com rapidez e muita qualidade e segurança esse passageiro”, afirmou Oliveira.

A previsão de ampliar o Catarina acompanha a evolução da demanda global por jatos privados. Prova desse interesse crescente foi a realização, entre os dias 4 e 6 deste mês, do primeiro Catarina Aviation Show, organizado pela controladora do aeroporto em parceria com a NürnbergMesse Brasil, braço local de uma das maiores empresa de eventos da Europa. A iniciativa reuniu 20 expositores, como Cirrus Aircraft, Gualter Helicópteros, Gulfstream e Synerjet, além das montadoras de luxo Aston Martin, Audi, McLaren e Jaguar Land Rover.

NOVOS COMPRADORES Tanto a realização da feira quanto o bom desempenho do aeroporto retratam o excepcional momento da aviação executiva no País, que vem incorporando novos perfis de usuários. São pessoas de alto poder aquisitivo que pouco tempo atrás não consideravam um jatinho como meio de transporte para as suas atividades. Isso começou a mudar com a pandemia, que interrompeu o fluxo das companhias aéreas comerciais. Mas não só isso. Juliano Lefèvre, diretor comercial da Comexport, maior e mais antiga trading brasileira, avalia que essa transformação é também fruto da vontade de aproveitar a vida com mais conforto. A empresa, que responde por 60% das importações de aeronaves executivas para o Brasil, fechou 34 negócios de janeiro a início de junho, 79% do total de 2021. O setor de aviação responde por 12,5% do faturamento total da Comexport, que foi de R$ 16 bilhões no ano passado.

Apesar do mercado aquecido, as quebras na cadeia de produção, decorrentes da pandemia, estão adiando os planos de quem deseja seu lugar privado ao céu. Com o fechamento de fronteiras e fábricas, somadas aos recentes lockdowns na China, muitas empresas do setor sofreram atrasos na produção. O resultado é uma demanda muito acima da oferta, o que tem dilatado o prazo de entrega de um avião novo para dois anos ou mais. Com isso, houve apreciação de modelos usados.

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“A gente acabou se posicionando como a primeira escolha para atender com rapidez e muita qualidade e segurança” Thiago de Oliveira presidente da JHSF.

Além dos entrantes, o público tradicional da aviação executiva no Brasil também aquece a demanda. Em virtude da extensão territorial do País e da falta de cobertura da aviação comercial, muitos empresários do agronegócio utilizam as aeronaves particulares. A comercialização desses equipamentos pode ser feita por meio de operações Barter, em que o pagamento não é feito em dinheiro, mas com parte da produção após a colheita. A Timbro Trading oferece a modalidade desde 2016. Neste ano, o Barter deve responder por 10% das operações.

Assim como com os aviões, os helicópteros seguem em alta. Uma pesquisa interna da Timbro estima crescimento entre 40% e 50% na frota desses modelos nos próximos anos. Segundo o head de aviação da trading, Philipe Figueiredo, as novas fronteiras de riqueza do País estão levando também esse tipo de aparelho para o campo. “Nós observamos que o helicóptero está começando a ser também perseguido pelos operadores do agro”, disse. Entram nessa escolha de compra as facilidades em comparação com um avião, principalmente em termos de infraestrutura, caso de pistas de pouso. Seja qual for a necessidade, a compra de uma aeronave particular nova não sai por menos de US$ 1,5 milhão ­­— e pode chegar a US$ 82 milhões, dependendo do modelo, tamanho e configuração.