O movimento era frenético. Ônibus executivos estacionavam e saiam de meia em meia hora. Helicópteros pousavam e decolavam trazendo presidentes de grandes companhias e empresários loucos por novidades. Mas não dava para entender. Eles mal chegavam ao Expo Transamérica, centro de exposições na Zona Sul de São Paulo, onde concentravam-se todos os estandes, e já partiam. Para onde vão? ?Ao aeroporto de Congonhas?, dizia um representante da Latin American Business Aviation Conference and Exibition (Labace), segunda maior feira de aviação executiva do mundo que aconteceu em São Paulo, na semana passada. Agora sim. Estava tudo mais claro. As estrelas do evento não ficavam no Transamérica e sim a pouco mais de 20 minutos dali. Avaliadas em mais de US$ 170 milhões, as 18 aeronaves aterrissadas no aeroporto de Congonhas deixavam os visitantes do evento de queixo caído. ?É como carro. Você tem um mais simples e logo quer outro mais potente e luxuoso?, dizia Carlos Alberto Barros, diretor da Politec, empresa de equipamentos para informática, e proprietário de um jatinho.

Como outros empresários, Barros estava de olho em um King Air, um avião de US$ 3 milhões. O preço não o assusta. ?Quem se preocupa com o custo não pode ter um avião?, disse. Para ele, é uma questão de praticidade e conforto. Serve tanto para as viagens de negócios como para as de lazer. ?Em duas horas estou à beira do rio Araguaia com toda a minha família. Se fosse de carro demoraria dois dias.? O público presente na Labace era esse: seleto e endinheirado. Dividia-se entre os estandes das empresas, localizados no Transamérica, e a visita ao aeroporto, onde podiam apreciar jatos como o Global Express, da canadense Bombardier. O avião de US$ 40 milhões é o sinônimo do luxo. Com 14,7 metros, ele tem sala de recepção, dois banheiros, sala de conferência e sala de descanso.

Os clientes que visitavam a feira eram tratados como chefes de Estado. Bastava pisar nos mais de 80 estandes para ser paparicado. Não é para menos. Alguns daqueles senhores poderiam desembolsar milhões de dólares para ter um brinquedinho de luxo estacionado, quer dizer, aterrissado em seus hangares. O tricampeão de Fórmula-1, Nelson Piquet, era um deles. ?Desde 1983 eu tenho avião. Aprendi a gostar disso com o Lauda?, diz Piquet, referindo-se ao ex-piloto austríaco Nick Lauda. Hoje, Piquet tem um Citation 10, uma máquina avaliada em US$ 14 milhões. Geralmente, ele é usado para viagens de negócios aos EUA e, nos fins de semana, para visitar o filho Nelsinho que mora na Inglaterra e corre na Fórmula 3. Por falar no jovem piloto de 17 anos… ?Comprei um Mustang para ele?, disse Piquet. Trata-se de um jato da Cessna avaliado em US$ 2,9 milhões e capacidade para seis pessoas. A entrega do mimo de Nelsinho acontece apenas em 2007 e, até lá, Piquet espera que o próprio garoto possa pagar. ?Tomara que ele já esteja na Fórmula 1?, diz o pai coruja.

Se Nelsinho ainda não entrou para a
elite do automobilismo, a Labace foi a
prova de que o País é um dos maiores
mercados de aviação executiva. Mais de
278 jatos operam no Brasil e o setor movimenta US$ 300 milhões ao ano. Os números renderam ao País a segunda posição no ranking mundial perdendo apenas para os EUA com uma frota
de 6 mil jatinhos. ?Conseguimos transformar o evento no maior da América Latina em sua primeira edição?, disse Rui Aquino, presidente
da Associação Brasileira de Aviação Gera
l (Abag) e organizador da Labace. ?Em apenas uma hora recebi três clientes interessados em comprar aviões que custam US$ 5,5 milhões cada?, completa Marcelo Marangon, diretor de vendas da Líder Aviação.