O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, retirou um compromisso anterior de seu governo de que o orçamento do país estará equilibrado até 2025, ao publicar sua visão econômica na terça-feira. Ele se recusou a dar uma data na qual o Japão fará algo para reduzir a dívida do governo, além de prometer um aumento significativo no gasto militar.

A postura é relevante, já que a dívida do país superou 1,1 quatrilhão de ienes (US$ 8,3 trilhões, no câmbio atual), mais de o dobro do tamanho da economia do país. A omissão marca um ponto alto na influência de um grupo dentro do governista Partido Liberal Democrático, que minimiza a questão do déficit.

Muitos países elevaram suas dívidas durante a pandemia e há um debate global sobre se é necessário cortá-las agora. A experiência do Japão deve ser instrutiva, pois ele tem o endividamento mais alto entre as principais economias e ao mesmo tempo os grupos mais poderosos que argumentam que a compreensão global sobre a dívida é incorreta.

Este campo, liderado pelo ex-premiê Shinzo Abe, diz que o Japão tem espaço para gastar muito mais, inclusive com defesa para conter a China. Já outra corrente, entre elas Koji Kano, vice-ministro das Finanças, adverte que o país parece o Titanic, rumando para um grande iceberg de dívida.

Alguns membros do primeiro grupo aderiram à escola de pensamento americano conhecida como Moderna Teoria Econômica. Ela diz que países que emitem dívida denominada em sua própria moeda, como os EUA e o Japão, nunca terão default, pois podem simplesmente imprimir mais dinheiro para pagar a dívida.

Essa visão provoca alarme em parte da sigla governista e em funcionários de carreira do Ministério das Finanças. Segundo ele, todos os gastos do governo precisam ser compensados por impostos ou outras receitas e o país não pode emprestar mais para sempre. Com o pior da pandemia já superado, eles argumentam que o Japão deveria controlar logo sua dívida.