São tantos componentes para serem iniciados, montados, alinhados, sob temperaturas extremas (tanto de calor quanto frio), que é incrível que tudo tenha finalmente se ajustado nos 6,5 metros de diâmetro do telescópio James Webb, que está no espaço desde 24 de janeiro. E o resultado é a imagem acima, uma estrela, perfeita, obtida através dos 18 espelhos curvos do aparelho. Não parece muito, pois com a abundância de filmes de ficção-científica nos cinemas e espaço criado artificialmente, achamos que já vimos de tudo e em maravilhosas cores – até um buraco negro. Mas essa é a the real thing, como diriam os americanos.

É um marco histórico. A imagem foi feita usando a câmera infravermelha NIRCam, que não só faz foto, mas atua como sensor para manter os espelhos alinhados por sete motores que são capazes de precisão de 1/10.000th de diâmetro de um fio de cabelo – acredite, TH significa Thomson e é uma medida bem pequena. O Webb está olhando para o “passado”, já que a luz que está “batendo” nas lentes foi criada muito tempo atrás – de 100 a 250 milhões de anos após o Big Bang. Como comparação, o antigo telescópio Hubble só conseguia ver as primeiras galáxias de nosso tempo. Como o Webb usa o infravermelho, quer dizer que ele está captando a expansão do universo, que vai “esticando” os comprimentos de onda até chegar no vermelho e aí cair no infra. É a astronomia infravermelha, inicialmente tida como muito “difícil”, mas enfim embarcada pela comunidade científica.

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Ele, onde está, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra (sim, é bem longe), vai nos dar imagens de Saturno, por exemplo, com a mesma qualidade dos voos das Voyager 1 e 2, que desde seu lançamento, em 1977, vem contribuindo com informações (ainda estão em operação). Mesmo aqui na Terra existindo telescópios com espelhos como o Webb e usando infravermelho, a atmosfera da Terra produz tanto “ruído” visual que acaba transformando o astrônomo num míope sem óculos. O alinhamento dos espelhos é algo tão preciso e em etapas, que dá Terra um leigo diria: “Deixa pra lá”. Mas os cientistas da NASA conseguiram o feito.

O Webb ainda está em fase de comissionamento, ou seja, testes, e vai ficar assim durante um ano até começar a mandar pesquisas mais elaboradas para os cientistas em Terra. Como tudo o que a NASA faz, redundância de equipamentos é uma garantia, então mesmo que algo pare de funcionar ou não aguente a vida no espaço, existem alternativas. Isso não quer dizer que durante o período a NASA não solte seus “testes” para maravilhar não só a comunidade mais nerd espacial, mas o próprio público comum, ressaltando o quão pequenos somos em relação a todo o universo.