O presidente Jair Bolsonaro é, sem dúvida, o mais desqualificado chefe de Estado que o Brasil já teve, seja para a economia, para a política ou para os cidadãos patriotas de bem. Mas se engana quem o enxerga como um ingênuo falastrão. Bolsonaro não é de todo estúpido. Na maior parte do tempo, finge ser. A performance, até aqui, deu certo. Levou um militar risível e parlamentar medíocre ao cargo máximo da República. A arrogância, o vocabulário de boteco e a deselegância no comportamento faz do mito a imagem e semelhança de seus seguidores.

Heleno diz que Bolsonaro não tinha intenção de dar golpe e tenta amenizar críticas

A bravata à moda bolivariana nas manifestações em Brasília e em São Paulo, no tragicômico 7 de Setembro, foi minuciosamente planejada por ele e seus gênios herdeiros. Não foi no calor da emoção. Se fosse, tal desequilíbrio emocional deveria ser motivo para afastá-lo do cargo, de revogar seu porte de arma, de cassar sua CNH. Ninguém que seja aprovado no teste do bafômetro e esteja com as veias limpas de entorpecentes xinga, sem querer, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), instiga a população à anarquia e ameaça romper a Constituição em nome da democracia.

Ao velho estilo bolsonarista, inconsequente e destrambelhado, a jihad do Palácio do Planalto, que combate os inimigos da corporação miliciana Messias & Sons, vai resultar em sua própria morte política – sacrifício que, a esta altura do campeonato, faria um bem danado à saúde do País. As ofensas de Bolsonaro cuspidas no microfone no Dia da Independência, seguidas por humilhantes pedidos maquiados de desculpas dias depois, só demonstram que o presidente está no emprego errado, na hora errada. Mas não foi sem querer.

Bolsonaro não dará um golpe apenas se não conseguir. Vai tentar se perpetuar no poder se não encontrar resistência. Para quem duvida, basta relembrar que o protagonista da crise atual é o mesmo que já defendeu publicamente guerra civil, sugeriu o fuzilamento do ex-presidente FHC por ter privatizado a Embraer, disse que o erro dos militares na Ditadura foi matar pouco e que insinuou que a parlamentar Maria do Rosário não merece ser estuprada porque, segundo ele, seria muito feia. Ou seja, Bolsonaro é a escória da civilidade social, um ser que causaria vergonha em qualquer eleitor de bem que recebeu alguma lição de bons modos na infância.

O aparente recuo do mito, depois de um inusitado encontro com o ex-presidente Michel Temer, é só mais uma performance para acalmar os ânimos do mercado, amansar a fúria dos togados e endossar sua imagem de menor impúbere. Mas tudo isso será um tiro de fuzil no pé, com o derretimento do apoio de sua base mais radical, desapontados com a frouxidão do macho-mor do Planalto. Para quem sabe quem é esse presidente, o Jairzinho paz e amor não convence. Para quem o idolatra, o recuo decepciona. Até que ele vomite uma nova bobagem, o vai-e-vem da retórica não passa de discurso para boi dormir.