SÃO PAULO (Reuters) -Itaú Unibanco e Bradesco rejeitaram nesta terça-feira alegações de que os bancos têm responsabilidade na situação da Americanas, que pediu recuperação judicial na semana passada após revelar um rombo contábil de 20 bilhões de reais.

“É leviana a tentativa de atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa”, afirmou o Itaú em comunicado.

O Bradesco disse em comunicado separado não compactuar “com alegações que buscam criar narrativas para atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa”.

As declarações de dois dos maiores bancos do país acontecem dois dias após os acionistas de referência da Americanas –Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira– terem negado em nota que soubessem de qualquer manobra contábil na Americanas.

Além disso, afirmaram que a PwC, auditora independente na Americanas, fazia uso regular de cartas de circularização usadas para confirmar as informações contábeis da varejista com fontes externas, incluindo os bancos.

“Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, escreveram os acionistas de referência da varejistas.

As críticas públicas, incomuns em casos envolvendo disputas judiciais, revelam a rápida deterioração das conversas entre os bancos e os principais acionistas da Americanas, após esta ter recorrido na semana passada à Justiça contra credores, com uma dívida de 43 bilhões de reais.

O catalisador da crise –as falhas na contabilização das operações chamadas de risco sacado, nas quais bancos antecipam para uma empresa valores que ela tem a pagar para fornecedores– tem levantado uma troca de acusações de parte a parte sobre a responsabilidade pelo ocorrido.

Para o Bradesco, há uma tentativa de “desviar a atenção do problema central, a falta de consistência dos números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus dirigentes sobre tal fato”.

O Itaú acrescentou que as cartas de circularização citadas pelos maiores acionistas da Americanas apenas apoiam a auditoria na verificação das informações fornecidas pela empresa e foram respondidas segundo práticas de mercado. “E os saldos das operações também sempre foram reportados no sistema central de risco do Banco Central.”

A troca de acusações acontece simultaneamente a uma batalha cada vez mais intensa em tribunais, com bancos tentando evitar que a Americanas tenha acesso a recursos já aprovados por eles, mas ainda não tomados pela varejista, que, por sua vez, luta pelo acesso ao dinheiro para preservar seu caixa.

A Reuters publicou mais cedo nesta terça-feira, citando fontes, que os bancos Santander Brasil e Safra pediram impugnação da recuperação judicial da Americanas, e que o Bradesco planeja processar a empresa a partir do exterior.

O BTG Pactual, por sua vez, teve uma derrota. Na semana passada, o banco havia obtido o bloqueio de 1,2 bilhão de reais para Americanas. Nesta terça-feira, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro suspendeu o bloqueio.

(Por Aluísio Alves e Paula Arend LaierEdição de Pedro Fonseca)