A volatilidade no mercado provocada pela pandemia do coronavírus fez a busca por proteção cambial (hedge) bater recorde este ano no segmento de médias empresas do Itaú, afirma o diretor de Produtos e Mesas Clientes do Itaú BBA, Eric Altafim, em entrevista exclusiva ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. As operações cresceram 30% em volume entre janeiro e setembro comparado ao mesmo período de 2019. Em número de clientes, a expansão foi de 23% no mesmo período.

“Estamos com recorde de quantidade de clientes e de boletas fazendo o hedge”, disse o executivo ao falar do segmento composto por empresas que faturam entre R$ 80 milhões e R$ 400 milhões por ano. Para este público, o banco desenvolveu, em parceria com o Broadcast, da Agência Estado, a plataforma Itaú Trader, que oferece cotações e a possibilidade de fechar operações cambiais, além de notícias. A plataforma permite também todo o trâmite burocrático eletrônico necessário ao fechamento de operações de câmbio.

Para o executivo, a tendência é que mais clientes entre as empresas médias busquem hedge, mas a pandemia acabou acelerando este movimento em 2020, assim como ocorreu com o home office, que era uma tendência em alguns segmentos e se tornou realidade por conta das medidas de distanciamento social. “O mercado está crescendo, porque o câmbio é volátil, mas a pandemia acelerou isso.”

O Itaú tem um time de executivos para a área educacional do hedge, com o objetivo de explicar o mecanismo a empresas que desconhecem o mercado futuro. A estratégia vai além de simplesmente objetivar que a empresa faça a operação de proteção com o banco e visa também que, ao contratar o hedge, diminua seu risco de crédito, facilitando o acesso das empresas ao financiamento bancário, com chance de taxas menores.

O diretor do Itaú destaca que a forte volatilidade observada no câmbio nos últimos meses “não é boa para ninguém”, nem para os bancos. “As empresas começam a ter mais dificuldade nas suas estratégias e os balanços não ficam tão bonitos”, disse ele. “As companhias ficam mais perdidas”, completa, comentando que quando o dólar estava na casa dos R$ 4,00, inicialmente não se sabia se ia para R$ 5,00 e depois que passou esse patamar, a dúvida é se ia a R$ 6,00 ou se dispararia até R$ 7,00. “A incerteza estava muito grande. As empresas começaram a procurar os bancos. Muitos clientes novos foram contratando operações de hedge.”

Legislação

O executivo do Itaú destaca que o Projeto de Lei que tramita no Congresso para modernizar a legislação de câmbio no Brasil, que está prestes a completar 100 anos, vai ajudar a melhorar o ambiente de negócios. “Tem que desregulamentar o câmbio, para deixar o mercado mais livre, tirar o custo burocrático das empresas”, afirma Altafim. Ele ressaltou que o PL traz a possibilidade de, ao fazer avaliação durante o fechamento de operações de câmbio, a instituição tenha o foco mais no cliente do que na operação em si. Ou seja, pode facilitar negócios para clientes antigos do banco, que hoje precisam das mesmas documentações para fechar o câmbio do que um que acabou de chegar. “O cliente está há 20 anos comigo, conheço ele muito bem.” Além disso, tende a atrair mais participantes ao mercado, como as fintechs.

O objetivo final do Banco Central é tornar o real conversível, mas o diretor do Itaú avalia que esse movimento pode levar tempo. “Para ter o real conversível, depende muito mais de economia estável, madura, de confiabilidade no País, no fiscal e na própria moeda.” Quando a conversibilidade ocorrer, os volumes de negócios no mercado de câmbio, hoje concentrados no mercado futuro, tendem a migrar para o mercado à vista, como acontece em países de moeda forte.

Para 2021, a projeção do banco é de real mais valorizado, com o dólar devendo fechar em R$ 4,50 e a economia crescendo 3,5%. “Esperamos recuperação da economia, mas tem muita incerteza ainda no ar para saber se vai ser menos ou mais volátil”, avalia Altafim. Entre os temas em foco, estão a discussão sobre a existência ou não de vacina contra o coronavírus em 2021 e a situação fiscal no Brasil, além do resultado das eleições americanas.