Os moradores da região da represa Billings, sul da Grande São Paulo, já sabem na ponta da língua como indicar a casa de Anísio Campos: ?É aquela ali, que tem os carros estranhos?. Os vizinhos se referem a três modelos pouco conhecidos que ficam estacionados na garagem de Campos: dois Nick e uma Topázio. Os primeiros são carros de passeio, pequenos como um Corsa, mas com linhas
retas. O outro é uma minicaminhonete cabine dupla. ?Trata-se do primeiro carro brasileiro que troca de roupa: pode ser utilitário de dia e se transforma em modelo de passeio quando se coloca uma tampa na traseira?, explica o proprietário dos veículos. Anísio Campos, 69 anos, é designer de automóveis. Seu nome pode ser pouco conhecido do público, mas foi ele quem assinou criações como o Puma; o primeiro buggy nacional ? fabricado pela Kadron ? e o Hollywood Berta, carro de corrida que, na década de 70, superou o recorde da Porsche nas pistas brasileiras. Agora, Campos está envolvido em outro grande projeto. O designer não vê a hora de colocar nas ruas sua mais recente criação: o modelo 012, que será produzido pela minimontadora Óbvio! a partir de 2005. Trata-se de um carro esporte, com linhas futuristas e motor da alemã Albert Weber, fornecedora da Porsche e de outras grandes montadoras. ?O Óbvio provará que carro nacional pode ser tão bom quanto importado?, afirma Campos.

O caminho que leva o 012 das pranchetas para as ruas foi traçado por Ricardo Machado, sócio da Óbvio!. A montadora carioca vai estrear no mercado em março deste ano. O primeiro produto será o 828/2, um carrinho urbano, pequeno e quadrado, que custará cerca de R$ 20 mil. ?O retorno financeiro do 828/2 será usado para o lançamento do 012, que custará em torno de R$ 40 mil?, explica o empresário. Para começar o negócio, ele contou com US$ 2 milhões vindos de investidores de risco e de um prêmio dado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Diferentemente de montadoras tradicionais, a fábrica da Óbvio!, que fica em Xerém, na Baixada Fluminense (RJ), só trabalha por encomenda. Assim que o comprador dá o sinal pelo carro, as peças saem do estoque para a linha de montagem. Isso faz com que a capacidade de produção seja de, no máximo, 250 carros por mês. ?Já temos 180 pedidos do 828/2 para brasileiros e pré-encomendas de importadoras da Bélgica, Nepal, EUA, Alemanha e Japão?, afirma Machado. A venda e a manutenção dos carros ficarão por conta de Associação Brasileira das Reparadoras Independentes de Veículos, que representa 140 mil oficinas. Para o financiamento, de 36 ou 60 meses, a empresa está em negociação com bancos como Bradesco e Itaú. ?Se as vendas do 828/2 forem boas, poderemos antecipar o lançamento do 012?, garante Machado. O designer Anísio Campos lidera a torcida para que isso ocorra.