Israel assina nesta terça-feira (15) na Casa Branca acordos com Emirados Árabes Unidos e Bahrei que alteram a balança no Oriente Médio e com os quais o presidente Donald Trump espera se apresentar como um “pacificador”, a apenas sete semanas das eleições em que buscará o segundo mandato.

Trump organizou uma grande cerimônia durante a qual o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, estabelecerá formalmente relações diplomáticas com os dois países árabes, os primeiros acordos do tipo desde os tratados de paz com o Egito e a Jordânia, em 1979 e 1994, respectivamente.

De acordo com uma fonte do governo americano, não está descartada a possibilidade de um aperto de mãos entre o líder israelense e os representantes árabes. A fonte afirmou ainda que todos os participantes da cerimônia foram submetidos a exames do novo coronavírus.

Emirados e Bahrein têm em comum com Israel a animosidade a respeito do Irã, que também é o inimigo número um dos Estados Unidos na região.

Há muitos anos, vários Estados árabes petroleiros cultivam discretos laços com o governo israelense, mas a normalização das relações oferece amplas oportunidades, especialmente econômicas, a países que buscam superar os prejuízos provocados pela pandemia de coronavírus.

“É uma conquista de primeira classe”, disse David Makovsky, do centro de estudos Washington Institute for Near East Policy. Ele destacou que para os israelenses isto “não implica os mesmos riscos” enfrentados por Menahen Begin “quando deixou o Sinai” para o Egito ou Yitzhak Rabin quando aceitou negociar com Yasser Arafat a criação de um Estado palestino.

A “visão para a paz”, plano apresentado no início do ano por Trump com o objetivo de resolver o conflito israelense-palestino, ainda está longe do sucesso. A Autoridade Palestina rejeita a iniciativa e nega a Trump o papel de mediador por ter tomado decisões favoráveis a Israel.

– “Dia obscuro” –

O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, disse que esta terça-feira será um “dia obscuro” para o mundo árabe. Também criticou as divisões entre os países árabes.

Os palestinos convocaram manifestações contra os acordos. Eles afirmam que receberam uma “punhalada nas costas” dos países árabes que aceitaram o acordo com Israel sem esperar a criação de um Estado Palestino.

Mas o governo Trump sempre afirmou que desejava alterar o equilíbrio na região com a aproximação de Israel e dos árabes em uma espécie de aliança contra o Irã. Os acordos antecipam uma mudança de cenário e parecem relegar a um segundo plano a questão palestina, como esperava a Casa Branca.

Neste contexto, a tensão aumentou entre Irã e Estados Unidos depois que o site Politico, que citou fontes do governo americano sob a condição de anonimato, informou que os serviços de inteligência suspeitam de um complô iraniano para matar a embaixadora americana na África do Sul para vingar a morte do general iraniano Qassem Soleimani.

Trump prometeu que qualquer ataque do Irã receberá uma resposta “1.000 vezes maior”, enquanto Teerã alertou os Estados Unidos sobre um “erro estratégico”.

De acordo com Makovsky, o Oriente Médio vira uma “nova região” na qual, em um fato inusitado, a Liga Árabe se negou a condenar a decisão das duas monarquias do Golfo.

“Os palestinos querem esperar e ver o que acontece nas eleições americanas, mas quando a poeira baixar eles devem repensar sua posição”, disse.

Os acordos representam uma vitória para Netanyahu e aproximam Israel de seu objetivo de ser aceito na região.

Para Trump, que até agora tinha poucos resultados diplomáticos a oferecer aos eleitores, os acordos são um êxito reconhecido até pelos adversários democratas.

Desde o acordo entre Israel e EAU anunciado em 13 de agosto, seguido pelo anunciado com o Bahrein na semana passada, republicanos não poupam superlativos para elogiar sua ação e defendem a atribuição do Prêmio Nobel da Paz.

Apesar das celebrações, algumas divergências surgiram sobre as condições do acordo com os Emirados.

Para os países do Golfo, Israel aceitou “terminar com a permanente anexação de territórios palestinos”. Netanyahu, no entanto, afirmou que não renunciou a anexar vastas áreas da Cisjordânia, apenas adiou os planos.

Em contrapartida, Netanyahu disse que, para preservar a supremacia militar de seu país na região é contrário à venda de caças F-35 americanos aos Emirados.