“Saí para correr sozinho e vi um idoso, fiquei longe dele, por ele, não por mim”, confessou Claudia, 18 anos.

Como a maioria de seus compatriotas, os jovens italianos tentam adotar medidas rígidas de precaução e exibem bom humor.

É a primeira vez que uma geração inteira de europeus, que não sofreu guerras nem experimentou fome em outros continentes, foi requisitada a fazer um sacrifício tão pessoal e íntimo.

Desde 8 de março, as autoridades ordenaram o confinamento de 60 milhões de italianos, embora o fechamento de escolas e universidades tenha sido estabelecido quatro dias antes, deixando-os sem vida social.

“Não saio nem visito minha mãe, porque ela tem mais de 70 anos e não quero que ela seja infectada”, conta Ludovica, filha única, 30 anos e recém-formada em biologia, em seu pequeno apartamento romano.

As vidas dos jovens foram transformadas. Eles se comunicam pela internet, às vezes riem, em outras comentam as notícias, tomam conhecimento da situação.

Alguns se organizam para comprar vizinhos mais velhos, outros passam horas no computador, têm compromissos para diferentes atividades on-line, ginástica, dança, refeições virtuais, graças a chamadas de vídeo, fazem flash-mobs nas varandas.

– A apertada agenda da quarentena –

Em um vídeo engraçado, um jovem ao telefone consulta a “agenda de quarentena de 2020”, cheia de compromissos, rigorosamente virtuais e propõe ao interlocutor: “Marcamos um horário para quando o fim do mundo chegar?”.

Se alguns riem, outros ficam angustiados. “Peguei o cachorro do meu pai, ele é mais velho, para que ele não saia três vezes por dia na rua. Morrer de coronavírus é a morte mais horrível, sem nenhum parente próximo e asfixia”, diz Luca aterrorizado.

Como muitos jovens, ele sabe que não faz parte do grupo com o maior fator de risco e por isso escolheu fazer algo por aqueles que podem têm maior chance de pegar a doença.

Se a princípio os jovens pareciam chateados, acabaram descobrindo uma maneira de preencher o tempo com as tarefas domésticas, cuidando de irmãos pequenos, parentes e, por fim, consigo mesmos, desenvolvendo seus próprios talentos.

Segundo o Laboratorio Adolescenza, uma associação que realiza pesquisas com adolescentes, 86% dos jovens que responderam a um questionário online acreditam que as instruções emitidas pelo governo são justas.

O Twitter está cheio de testemunhos de jovens com a hastag “Eu fico em casa”. Muitos deles lutam especialmente pelos pais e pelos avós. “Se você acredita que a vida de nossos avós vale menos que a sua, não temos mais nada a dizer um ao outro”, diz Aura no Twitter.