Centenas de iraquianos expressaram sua revolta, nesta terça-feira (29), durante o funeral de cinco crianças e duas mulheres de uma mesma família, mortas no dia anterior por um foguete disparado contra o aeroporto de Bagdá, onde soldados americanos estão estacionados.

“Este vilarejo é como um pequeno Iraque. Se o governo não é capaz de protegê-lo, como pode garantir a segurança de todo Iraque?”, declarou um dos integrantes do cortejo fúnebre no vilarejo de Al-Bushaaban, a poucos quilômetros do aeroporto de Bagdá.

Esta tragédia representa um novo desafio para o governo de Mustafa al-Kazimi, preso entre seus aliados americano e iraniano, e grupos armados pró-Irã que dizem querer expulsar o “ocupante americano” do Iraque.

Se os ataques com foguetes contra a embaixada americana, comboios de logística iraquianos, ou bases que abrigam soldados americanos são agora quase diários, eles não costumam causar baixas.

Mas o número de vítimas do ataque de segunda-feira à noite é sem precedentes e coloca os grupos armados pró-Irã em uma posição delicada em relação à opinião pública, farta de anos de violência de várias facções armadas no país.

Em um comunicado divulgado na segunda-feira (28), o Exército iraquiano culpou “bandos criminosos e bandos ilegais” que buscam “criar o caos e aterrorizar o povo”.

Sinal de que as consequências podem ser pesadas para esses grupos, as contas pró-Irã, que costumam elogiar rapidamente esse tipo de ataque nas redes sociais, permaneceram caladas.

Esse novo ataque aos interesses americanos, o mais recente de uma série desde o início de agosto, ocorre no momento em que Washington ameaça fechar sua embaixada e retirar 3.000 soldados do Iraque, se os foguetes não pararem.

Washington insiste em que Bagdá deve agir contra esses grupos. O Iraque também deve lidar, porém, com seu grande vizinho iraniano, um ferrenho inimigo dos Estados Unidos que arma, financia e apoia várias facções xiitas armadas.

Acompanhado da ameaça de sanções contra personalidades políticas e militares iraquianas, o ultimato dos EUA gerou, esta semana, uma série de comunicados com o objetivo de acalmar a situação.

Em frente à pequena casa de Al-Bushaaban, não muito longe da cratera feita pelo foguete, dos buracos nas paredes deixados por estilhaços e de poças de sangue, dezenas de dignitários tribais recebiam condolências nesta terça.

Vários autoridades e oficiais militares foram ao local para tranquilizar a população. Para as centenas de iraquianos que cercam os caixões, porém, a sensação é que “não estamos em segurança em lugar nenhum” – como afirmaram vários deles em seus relatos à AFP sobre como as crianças morreram, enquanto brincavam na frente de casa.