Irã, Rússia e Turquia não conseguiram, nesta sexta-feira, superar suas diferenças sobre a província síria de Idlib, deixando em suspenso o destino deste último reduto rebelde da Síria, onde a comunidade internacional teme um desastre humanitário.

Reunidos em uma cúpula em Teerã, os presidentes destes três países concordaram em continuar “cooperando” para encontrar uma solução permanente que evite as perdas de civis nesta região do noroeste da Síria, ao redor da qual o poder de Bashar al Assad reuniu tropas ante um assalto que parece iminente.

A cúpula foi marcada por um duelo de declarações entre os presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, e russo, Vladimir Putin.

Erdogan pediu um “cessar-fogo” e alertou para um “massacre” em caso de ataque das tropas leais ao regime, apoiadas por Teerã e Moscou.

Mas Putin rejeitou esta proposta argumentando que não havia “representantes dos grupos armados em volta desta mesa” habilitados para negociar um cessar-fogo.

Em geral, os três países pareceram se manter firmes em suas posições. Irã e Rússia insistiram na necessidade de combater o terrorismo, e no direito de Damasco de recuperar a totalidade de seu território, enquanto a Turquia, que apoia os rebeldes e acolhe refugiados sírios chegados em massa a seu território, alertou sobre um “banho de sangue”.

“Combater o terrorismo em Idlib é uma parte inevitável da missão, que consiste em levar paz e estabilidade à Síria, mas esse combate não deve fazer os civis sofrerem, ou levar a uma política de terra arrasada”, declarou o presidente iraniano, Hassan Rohani, no início da reunião.

“O governo sírio tem o direito de assumir o controle da totalidade de seu território nacional e deve fazê-lo”, ressaltou Putin.

Os três países adquiriram um papel importante na guerra na Síria através do apoio militar às partes beligerantes e do processo de Astana, que eclipsou as negociações lideradas pela ONU para tentar pôr fim à guerra, que deixou mais de 350.000 mortos desde 2011.

Antes da cúpula, alguns meios de comunicação haviam apontado um possível acordo entre as três partes. Mas o comunicado final do encontro se limita a dizer que os três presidentes “decidiram resolver” a questão de Idlib “no espírito de cooperação que caracteriza o [processo] de Astana”.

– “Rotas de evacuação” –

“Discutimos medidas concretas para uma estabilização gradual na zona de desescalada de Idlib, que prevê, particularmente, a possibilidade de passar para um acordo para os que estiverem dispostos ao diálogo”, disse no entanto Putin, ao fim da cúpula, fazendo referência aos combatentes insurgentes que estariam dispostos a abandonar as armas.

Se Erdogan e Rohani defenderam a necessidade de proteger os civis, o emissário da ONU para Síria, Staffan de Mistura, defendeu nesta sexta-feira medidas concretas ante o Conselho de Segurança reunido em Nova York para abordar a questão de Idlib.

“Faltam rotas de evacuação em todas as direções, leste, norte, sul”, declarou.

Centenas de civis começaram a fugir da zona na quinta-feira ante o temor de um ataque iminente das tropas do governo.

Nesta sexta, novos bombardeios russos contra posições rebeldes e extremistas no sudoeste da província deixaram cinco mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Enquanto isso, em uma província vizinha, os bombardeios perpetrados por grupos rebeldes mataram 10 civis, segundo o OSDH.

Idlib, conquistada em 2015 pelos insurgentes, é seu último grande reduto no país. Também é o lugar aonde foram enviados dezenas de milhares de rebeldes e civis evacuados de outros redutos da oposição recuperados pelas forças leais ao regime em vários pontos do país.

Decidido a recuperar o conjunto do território sírio, o presidente Bashar al-Assad congrega esforços nos arredores da província, na fronteira com a Turquia. A região é dominada pelos extremistas do Tahrir al-Sham (HTS) e também acolhe importantes facções rebeldes.

Na província de Idlib e nos redutos rebeldes das vizinhas Hama, Aleppo e Latakia vivem três milhões de pessoas, segundo a ONU, dos que mais da metade são deslocados.

Em um comunicado comum, oito ONGs internacionais ativas na Síria, como Save The Children, pediram aos “dirigentes mundiais” reunidos nesta sexta-feira em Teerã e Nova York que “trabalhem juntos para evitar” que ocorra “a pior catástrofe humanitária em sete anos de guerra na Síria”.