IPO, a sigla para oferta pública de ações nas bolsas americanas, entrou no vocabulário corrente nos últimos anos com a febre da Internet. Qualquer companhia desconhecida lançava seus papéis com estrondo e fazia montanhas de dinheiro. O ano passado, mesmo com o estouro da bolha, assistiu o recorde histórico de IPOs nos Estados Unidos ? 384 lançamentos, mais de um por dia. Mas a palavra que antes parecia mágica agora soa quase como um palavrão em Wall Street. Os primeiros meses do ano foram o pior período para IPOs desde 1990, o ano da ressaca após o crack da bolsa. Foram somente 24 lançamentos, contra 121 no mesmo período de 2000. É tempo de hibernação. Os poucos que se arriscam a fazer IPOs hoje são companhias antigas, que possuem nome, dinheiro e, simplesmente, decidiram entrar no mercado para buscar mais recursos para suas operações gigantescas. Geralmente são empresas criadas a partir de divisões de multinacionais. ?Você não vê mais companhias imaturas, desconhecidas, não testadas, indo ao mercado como se via nos últimos anos?, diz Kyle Huske, analista do site IPO.com, especialista nesse tipo cada vez menos comum de operação.

Quando se confere o saldo dos poucos lançamentos recentes, a contabilidade é ainda mais triste. A maior parte do dinheiro arrecadado em IPOs desde o início do ano veio de apenas três nomes. A Agere Systems, que foi desmembrada da Lucent Technologies, a KPMG Consulting, que tinha capital fechado, e a Cnooc, uma companhia de petróleo de Hong Kong, foram responsáveis por quase US$ 7 bilhões dos US$ 7,5 bilhões que entraram nas bolsas americanas. Para piorar, o resultado desses grandes IPOs não foi dos mais animadores. A Lucent, ao separar parte de seus negócios na Agere, fez apenas um negócio desesperado. Precisando de dinheiro para pagar dívidas, lançou as ações que deveriam ser cotadas a US$ 20 cada por apenas US$ 6, para garantir que encontrariam comprador. Embora o mercado esperasse uma grande valorização, elas continuam pouco acima desse patamar, como efeito do anúncio de uma perda de US$ 148 milhões no primeiro trimestre.

O último efeito da crise dos IPOs é uma maré de ações judiciais que inundou os tribunais. Empresas quebradas e bancos emissores estão sendo bombardeados por investidores que compraram ações lançadas no ano passado e que viram os papéis virarem pó em poucos meses. A acusação básica da maioria dos processos é de manipulação do mercado. Até o ano passado, todo mundo queria comprar ações de companhias pontocom. As grandes companhias de investimento trapaceavam, fazendo com que clientes preferenciais, amigos ou parentes dos diretores furassem a fila, comprando as ações logo no lançamento. Num acordo ?por fora?, eles combinavam um preço inicial alto (que garantia o lucro do emissor), e providenciavam para que as ações fossem passadas adiante logo em seguida, a um preço ainda maior, para as pessoas que estavam mais atrás na fila. Esses últimos pagavam a conta, comprando papéis artificialmente valorizados.