Está programada para 28 de fevereiro a divulgação do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Considerado um dos principais instrumentos para ajudar os líderes globais a projetar respostas aos impactos climáticos, o documento deste ano deve trazer conclusões ainda mais drásticas do que as do ano passado, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o documento como “um código vermelho para a humanidade”.

Sobre o relatório deste ano, o presidente do IPCC, Hoesung Lee, o classificou como o mais ambicioso da história. “A necessidade do relatório do Grupo de Trabalho II nunca foi tão grande, porque os riscos nunca foram tão altos”, afirmou na segunda (14) quando começaram os trabalhos de aprovação do texto final. Pelo rascunho inicial o documento terá três seções.

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A primeira trará oito capítulos com temas abrangentes como riscos, adaptação e sustentabilidade por sistemas impactados pela mudança do clima; oceanos; água; alimentação; cidades, saúde e pobreza. A segunda, estudos sobre regiões globais, sendo que dados referentes ao Brasil devem estar em um apanhado de 50 páginas dedicadas às Américas Central e do Sul. Já a terceira é uma compilação sobre os riscos que a mudança climática traz para as regiões e setores econômicos; caminhos para adaptação; e mitigação.

Durante uma sessão preparatória para o lançamento do relatório, a chefe de Ciência, Mudança de Dados e Sistemas da Bezos Earth Fund, Kelly Levin, deu uma amostra dos riscos que o planeta corre. Caso a temperatura do planeta aumente 1,5ºC, cerca de 4% das espécies de vertebrados e 8% das espécies de plantas serão extintas. Caso, a temperatura aumente mais 0,5ºC chegando a 2ºC, os números sobem para 8% e 16%, respectivamente. Já o nível do mar aumentará 0,4 metro no primeiro cenário e no segundo, 0,46 metro.

Para sair da teoria e ir para a prática, a seção de recomendações deve vir firmemente ancorada na necessidade de investimentos. Além de pressionar para que o fundo de US$ 100 bilhões para a promoção da transição energética feita no âmbito do Acordo de Paris finalmente seja constituído, o relatório também mostrará a urgente necessidade dos países em desenvolvimento em dobrar os fundos de adaptação à nova realidade para no mínimo US$ 40 bilhões até 2025.

Considerando que faltam apenas oito anos para que o mundo corte as emissões de gases de efeito estufa em 50%, prazo estipulado no Acordo de Paris, a divulgação do relatório precisa ser de fato levada a sério pelos líderes mundiais. No Brasil, pelo andar da carruagem, esse papel estará mais na mão da iniciativa privada do que no governo federal que, sabendo que não estará mais no Planalto em 2030, quer mais é ver o planeta pegando fogo.