Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) – O IPCA-15 desacelerou com força em julho e atingiu a menor variação em dois anos graças ao impacto da redução das alíquotas de ICMS sobre os preços de combustíveis e energia, com a taxa em 12 meses voltando a ficar abaixo de 12%.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) passou a subir 0,13% em julho depois de um avanço de 0,69% em junho, resultado que ficou ainda abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de 0,17%.

FMI melhora com força projeção para crescimento do PIB do Brasil em 2022, a 1,7%

A leitura mensal da prévia da inflação oficial, divulgada nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a mais baixa desde junho de 2020 (+0,02%).

O alívio levou o índice a acumular em 12 meses inflação de 11,39%, voltando a ficar abaixo de 12%, mas ainda mais de duas vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA –já abandonada pelo Banco Central.

A expectativa para o dado em 12 meses era de avanço de 11,41%.

“A queda na inflação (em 12 meses) na primeira metade de julho fornece o primeiro sinal claro de que a inflação passou por seu pico e está agora em trajetória de queda”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.

O que garantiu a desaceleração da alta em julho foram as quedas dos grupos Transportes e Habitação, respectivamente de 1,08% e 0,78%, graças à lei que estabelece um teto para as alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo.

A lei não fixa uma alíquota para o ICMS, mas limita a incidência do tributo para alguns setores a aproximados 17% ao carimbá-los como “essenciais”.

Os dois grupos contribuíram com -0,36 ponto percentual no índice do mês. Os preços da gasolina registraram recuo de 5,01%, enquanto os de etanol caíram 8,16%, de acordo com os dados do IBGE. Já a energia elétrica residencial teve queda de 4,61%.

O resultado indica que a inflação no país pode já ter atingido o pico, mas os efeitos da lei não devem ser duradouros e as projeções para o ano que vem seguem subindo.

Por outro lado, o maior impacto individual no IPCA-15 de julho foi exercido pelo leite longa vida, que disparou 22,27% e levou o grupo Alimentação e bebidas a subir 1,16%.

Com forte peso no bolso do consumidor, alimentos tiveram o maior impacto no índice do mês, depois de os preços do grupo acelerarem a alta em relação à taxa de 0,25% de junho.

Em sua luta contra a inflação elevada no Brasil, o BC aumentou a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual no mês passado, a 13,25% ao ano, e disse que antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, na reunião de agosto, em movimento que busca esfriar a atividade e a demanda.

“Acreditamos que esses números são compatíveis com o fim do ciclo de altas na Selic com a taxa ao redor de 14% e manutenção nesse patamar por bastante tempo. Nos próximos meses, se confirmada, a desaceleração de bens comercializáveis deve contrabalançar um período de preços de serviços ainda em alta forte”, avaliou Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

As mais recentes projeções do BC apontam para um IPCA de 8,8% ao final deste ano e de 4,0% em 2023, com a autoridade monetária já sinalizando que tentará levar a inflação a um patamar em torno da meta, não exatamente em cima do alvo.

O mercado, de acordo com a pesquisa Focus realizada pelo BC, vê o IPCA a 7,30% ao final deste ano e a 5,30% em 2023.

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEI6P0GQ-BASEIMAGE