Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) – Os preços dos combustíveis seguiram em forte alta em abril e levaram o IPCA-15 a registrar o maior avanço para o mês em quase 30 anos, ultrapassando os 12% no acumulado em 12 meses.

Ainda que o dado tenha vindo abaixo do esperado pelo mercado, os preços elevados somam-se à disparada recente do dólar ante o real para formar o pano de fundo da reunião do Banco Central na próxima semana, quando uma nova alta de juros é dada como certa, mas há grande expectativa em torno das indicações que serão dadas sobre os próximos passos da política monetária.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15)teve em abril alta de 1,73%, contra 0,95% em março. Apesar da forte aceleração, ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters com analistas de uma taxa de 1,85%.

O dado divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o mais elevado para um mês de abril desde 1995 (1,95%), e também representa a maior variação mensal do indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%).

O resultado levou o avanço acumulado do IPCA-15 a 12,03% nos 12 meses até abril, de 10,79% em março e contra projeção de 12,16%.

Isso representa quase 2,5 vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

As pressões inflacionárias vêm aumentando diante do reajuste de combustíveis em meio à alta do petróleo no mercado internacional, com o choque de oferta provocado pela guerra na Ucrânia.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, chegou a prever no mês passado que o pico da inflação no país aconteceria em abril, com uma taxa de 11% em 12 meses. Esse nível já ficou bem para trás, mas economistas indicam que o pico pode já ter sido atingido ou estar muito próximo. [nL2N2VS1BU

“A perspectiva para os próximos meses é de desaceleração na inflação mensal, dados o início da bandeira verde para energia elétrica em 16 de abril, uma menor alta dos alimentos, além de menor aceleração nos combustíveis”, avaliou Felipe Rodrigo de Oliveira, economista da MAG Investimentos.

Por outro lado, Tatiana Nogueira, economista da XP, ressalta que “as coletas de alta frequência e acompanhamento do impacto dos lockdowns na China e embargos contra a Rússia têm mostrado pressão inflacionária grande para próximos meses”, evidenciando as incertezas que cercam a trajetória dos preços.

GASOLINA

Em abril, os custos de Transportes aceleraram com força a 3,43%, de 0,68% em março. Isso se deu principalmente pelo aumento de 7,51% no preço da gasolina, reflexo do reajuste no preço médio nas refinarias que fez do combustível o maior impacto individual no IPCA-15 do mês.

Também subiram os preços do óleo diesel (13,11%), do etanol (6,60%) e do gás veicular (2,28%), destacou o IBGE.

A segunda maior alta entre os grupos foi de Alimentação e bebidas, de 2,25%. Os preços dos itens consumidos no domicílio avançaram 3%, pressionados principalmente por tomate (26,17%) e leite longa vida (12,21%).

Por sua vez, a alta de 8,09% do gás de botijão exerceu o maior impacto em Habitação, cujos custos avançaram 1,73%.

O BC elevou os juros a 11,75% em março e indicou inicialmente que encerraria o aperto monetário com nova elevação de 1 ponto percentual da Selic no início de maio. Há duas semanas, no entanto, Campos Neto disse que a inflação do mês passado surpreendeu para cima e reiterou que o BC “está sempre aberto a analisar o cenário”, alimentando expectativas do mercado de um ciclo mais longo de aperto monetário este ano.

A autoridade monetária se reunirá na próxima semana depois da disparada do dólar ante o real desde as mínimas recentes, o que está consolidando a visão de analistas de que não terá outra saída a não ser seguir elevando os juros à frente.

Uma política monetária mais apertada tende a esfriar os gastos do consumidor e, consequentemente, conter a alta dos preços, mas também restringe a atividade.

A pesquisa Focus, que voltou a ser divulgada pelo BC nesta semana depois de um hiato de quase um mês, mostrou que os especialistas consultados pela autoridade monetária veem a Selic a 13,25% ao final deste ano, com a inflação em 7,65%.

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