O comportamento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) ao longo de abril confirma o viés desinflacionário da crise causada pela pandemia do coronavírus no Brasil, diz o coordenador do indicador, Guilherme Moreira.

Na segunda quadrissemana do mês, o IPC recuou 0,03%, após avançar 0,03% na primeira. De acordo com o economista, a única pressão observada no indicador parte do grupo Alimentação, que subiu 1,34% nesta divulgação (de 1,11% na anterior), provavelmente puxado pelo efeito da corrida aos supermercados.

“Temos aumento de leite longa vida (5,65%) e de ovos (5,44%) acima do padrão sazonal, o que sinaliza que há uma pressão de demanda. A Alimentação também continua subindo nas leituras de ponta, mas é a única fonte de pressão à vista”, explica Moreira.

No entanto, a queda de demanda por itens de outros grupos começou a dificultar, inclusive, a coleta de preços pela Fipe, que já enfrentou problemas para conseguir dados sobre o grupo de Vestuário (0,12%), além de itens específicos como viagens (-14,0%).

“A confiança do consumidor despencou e estamos vendo que tem itens que nem sequer conseguem ser ofertados, tanto pela quarentena quanto pela queda de renda das pessoas. Você vai ter uma formação muito grande de estoques e isso vai manter a inflação do ano em níveis baixos”, afirma o analista.

Para o fechamento de abril, a Fipe projeta IPC com variação nula (0,0%), puxado para cima pela Alimentação (1,24%) e pela Saúde (0,52%), mas com pressão para baixo de Habitação (-0,23%), Transportes (-1,19%), Despesas Pessoais (-0,62%), Vestuário (-0,01%) e estabilidade nos preços da Educação (0,0%).

A estimativa da Fipe é que o IPC chegue a 2,80% no fim do ano.

Moreira diz que não planeja rever a projeção por ora, mas que não descarta uma redução. “Pode acontecer. A queda das expectativas para inflação é muito intensa”, afirma.