A alta de 0,05% na taxa de inflação no primeiro trimestre na capital paulista é a menor em 20 anos, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Em igual período de 1998, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve queda de 0,15%. “O resultado do trimestre veio muito baixo e isso tem efeito nas estimativas para o restante do ano. Por isso, revisamos a estimativa para 2018 de 3,74% para 3,15%”, afirma o coordenador do IPC da Fipe, André Chagas. “Só se acontecer algo que faça com que a inflação fique muito forte e descontrolada que possa compensar esse primeiro trimestre”, completa.

Caso a estimativa de 3,15% seja confirmada, também será a mais baixa desde 1998, quando o IPC fechara com deflação de 1,79%. “A inflação continua bem comportada e há grande chance de o Banco Central descumprir o piso de 3,00% do centro da meta de 4,5%”, diz, ao referir-se à taxa oficial de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A grande incerteza, diz, é em relação à eleição. “Se tivermos candidaturas sejam de esquerda ou de direita que provoquem desconfiança e consequentemente pressão cambial, podemos ter uma inflação maior. Porém, não é nosso cenário”, avalia.

Em março, o IPC teve variação zero após ceder 0,42% em fevereiro, acumulando 1,93% em 12 meses. O resultado veio dentro do intervalo das expectativas da pesquisa do Projeções Broadcast, que ia de queda de 0,14% a alta de 0,07%, com mediana positiva de 0,04%. A Fipe estimava 0,03% para o dado mensal. “No geral, os grupos vieram dentro do previsto. Só Alimentação que teve alta menor, de 0,04%, do que a de 0,10% que esperávamos”, diz.

Em fevereiro, o grupo teve queda de 0,95%.

Com a reversão de sinal de Alimentação em março, o indicador de difusão do IPC – que mede o quanto a alta de preços está espalhada – aumentou a 48,38% na comparação com 42,55% em fevereiro. Isso porque o grupo de alimentos representa quase 25% do orçamento das famílias na cidade de São Paulo. Contudo, Chagas pondera que o resultado ainda é muito baixo, o que não elimina o quadro inflacionário desfavorável. “Em dezembro do ano passado, o índice de difusão chegou a quase 59%. Agora, ainda está menor que 50%”, pondera.

“Mesmo se retirarmos da conta o comportamentos dos preços de maior volatilidade, a inflação está bem comportada”, acrescenta referindo-se às medidas de núcleos. O IPC-Ex, que exclui do cálculo geral os preços de alimentos com comportamentos mais voláteis e combustíveis, ficou em -0,08% em março após -0,14% em fevereiro, enquanto o IPC-MS – tradicional núcleo de médias aparadas com suavização – ficou com alta de 0,07% no terceiro mês (de 0,10%).

Segundo Chagas, o nível de avanço dos preços no grupo Alimentação atingiu 46,29% no terceiro mês do ano depois de 34,29% em fevereiro. Já o de Transporte fechou o período em 35,48% após 58,06%. “Houve uma troca. Com certa normalização dos preços de alimentos, o grupo subiu. Já em Transportes, os preços de combustíveis ficaram comportados”, explica. O grupo Transportes fechou fevereiro com alta de 0,10% depois de 0,45% anteriormente, com destaque para variação zero em gasolina (de alta de 0,01%) e recuo de 0,26% em etanol (alta de 1,45%).

Abril

A expectativa da Fipe é que o IPC sai de variação zero em março para elevação de 0,21%, diante da expectativa de avanço em Alimentação para 0,40% na comparação com alta de 0,04% no terceiro mês do ano. Além disso, acrescenta que o indicador deve ser pressionado por gastos maiores com Saúde, em razão do reajuste médio de 2,43% para medicamentos este mês.

A projeção é que este conjunto de preços fique em 0,99% na comparação com 0,46% em março. “Alimentação deve seguir a sazonalidade e avançar, enquanto Saúde deve refletir os aumentos em remédios. A grande incógnita é quanto a Transportes por causa de combustíveis, mas estamos esperando alta de 0,16% em abril de 0,10%”, diz. “Apesar da estimativa de aceleração do IPC, a projeção é menor que a alta de 0,61% de abril de 2017.”