Investir ou não investir parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Eletrobras? Essa é a questão que vem mobilizando trabalhadores e corretoras nos últimos dias. A opção de trocar o investimento tradicional do Fundo por cotas de um fundo mútuo de privatização (FMP) da estatal remete imediatamente à lembrança dos ganhos obtidos por quem investiu em ações da Petrobras ou da Vale no começo dos anos 2000. No caso da Petrobras, o rendimento chegou a ser até dez vezes maior que o do FGTS. No da Vale foram 24 vezes mais.

Diante desses exemplos os analistas ouvidos por DINHEIRO são praticamente unânimes em recomendar a compra. “A história mostra que quem investiu se deu muito bem”, disse o especialista da Valor Investimento Wagner Varejão. Para ele, quem optar por investir sai do rendimento básico do FGTS, em torno de 3%, para apostar em um ativo que promete se valorizar muito. “A empresa ainda vai ser privatizada e, tudo indica, que haverá uma melhora na gestão”, afirmou.

Para João Abdouni, analista da INV, não há contraindicações. Segundo ele, um investimento em ação, em média, rende 12% ao ano. “No caso da Eletrobras, acreditamos que possa chegar a 15%, cinco vezes mais que o FGTS”, afirmou. Abdouni só lembra que o trabalhador terá de considerar que investimentos em ações são de renda va­riável. Ou seja, dependem do sucesso da empresa. “Mas como é empresa de energia, uma coisa de que toda a sociedade necessita, o risco é menor no longo prazo.”

E é exatamente a variação que chama a atenção de Flávio Conde, analista da Levante Investimentos. Ele lembra que ações não ficam paradas, oscilam e o investidor precisa ter isso em mente. “Nos últimos cinco anos a Eletrobras subiu 262% e o Ibovespa, 79%. A valorização da ação já vem ocorrendo há muito tempo e não vejo aumento muito maior”, afirmou. Segundo Conde, os exemplos da Petrobras e da Vale são diferentes. As ações não estavam tão valorizadas no momento da subscrição. “Os papéis da Eletrobras atualmente já estão mais valorizados”, disse. “Sabendo da privatização, os profissionais e os fundos foram comprando para se antecipar à alta.” Segundo Conde, como a privatização vinha sendo esperada há um ano e meio, essa expectativa já está refletida nos preços. Para Conde, a euforia está grande, mas os bons resultados anteriores não garantem o sucesso. “Nos primeiros dias pós-operação pode haver um aumento nas cotações, o que não significa muito para o investidor do FGTS”, disse ele. “Quem tem recursos no Fundo tem de deixar o dinheiro investido uns 12 meses e já está comprando um ativo com o preço alto.”

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“Uma pessoa de 25 anos não tem problemas em investir. Porém, quem for precisar do dinheiro do FGTS daqui a um ou dois anos pode até perder, ao ter de pagar taxas” Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

As vantagens decrescem com o tempo e com a idade do trabalhador. “Para uma pessoa de 25 anos que tem bastante tempo antes de sacar o dinheiro do Fundo, não há problemas em colocar uns 25% do FGTS na Eletrobras porque ele tem chances de ganhar no longo prazo. Porém, quem espera precisar do FGTS daqui a um ou dois anos pode até perder, ao ter de pagar taxas”, afirmou. Ele disse que sempre é importante olhar os fundamentos da empresa e do mercado. Além disso, o governo não sairá completamente do comando, ficando com 45%. “É possível que haja alguma questão de ingerência. E o investimento é pesado, de longo prazo e de alto risco. Pode chover ou não, atrasos em usinas… São muitas variáveis que tornam o negócio energia elétrica muito mais arriscado do que mineração ou petróleo”.

Segundo o analista econômico e CEO da Vallus Capital, Caio Mastrodomenico, o investidor precisa estar ciente de que investir em Eletrobras via fundo de garantia é diferente de comprar ações por meio de uma corretora. “É cobrada taxa de administração que acaba encarecendo a operação, além de incidirem impostos na retirada.”

COMO INVESTIR? Para investir, o trabalhador só precisa baixar o aplicativo do FGTS no seu celular, inserir os dados solicitados e escolher a opção Aplicação nos Fundos Mútuos de Privatização. Depois disso aparece a opção FMP Eletrobras e basta autorizar, indicando a corretora. É importante ver a taxa cobrada pelas corretoras, que variam de zero a 0,55%. O trabalhador poderá aplicar até 50% do fundo
em ações da energética. O limite mínimo é de R$ 200 e o máximo é R$ 50 mil, ou 50% do total depositado no FGTS, o que for menor.