O ouro é uma proteção clássica contra a inflação no longo prazo. Muitos investidores, porém, não notam as palavras “longo prazo”. Em períodos mais curtos, essa aplicação tem perdido seu brilho. Nos 12 meses até a segunda-feira (11), o grama do ouro negociado na B3 recuou 1,8%. Já a inflação medida pelo IPCA nos 12 meses até junho ficou em 11,89%. A perda do ouro em termos reais foi de 13,9%. O mesmo cálculo vale para o mercado americano. Em 12 meses, o ouro caiu 5% em Nova York, para uma inflação acumulada de 9,1% nesse período, segundo o Consumer Price Index (CPI). Isso quer dizer que o ouro é um mau negócio?

Para os analistas a resposta segue sendo “não”, apesar dos resultados ruins. O prejuízo no curto prazo derivou da alta de juros nos EUA, que tornou as aplicações no metal menos competitivas que investimentos na renda fixa. “O ouro não paga dividendos, por isso seus preços caem quando os juros sobem pelo mundo”, disse o especialista da Valor Investimentos, Wagner Varejão. As cotações devem seguir caindo pois os juros americanos, atualmente em 1,5% ao ano, podem avançar até 3,5% ao ano no fim de 2022.

Considerando-se períodos mais longos, porém, o ouro vai voltar a brilhar. Por dois motivos, um bom e um ruim. O bom é que os juros nos Estados Unidos prometem cair quando a inflação arrefecer. “A alta de juros nos EUA não é para sempre e o investidor pode aproveitar os preços baixos para comprar”, disse o analista da Empiricus, Matheus Spiess. As quedas nos últimos meses criaram oportunidades excelentes. “O ouro ainda vai sofrer no curto prazo, mas o lucro nos próximos anos tende a ser robusto”, afirmou.

O motivo ruim é o cenário geopolítico conturbado. Como o ouro não rende dividendos, a única maneira de lucrar é vender por um preço superior ao da aquisição. E eventos como a invasão russa à Ucrânia, por exemplo, devem levar mais investidores a buscar proteção. “Tensões geopolíticas, incertezas sobre a economia e aversão ao risco costumam elevar a busca por ativos mais seguros que sirvam de reserva de valor, como o ouro”, disse o gestor da Órama, Felipe Cunha..

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“Queda de preços criou oportunidades para comprar agora e obter lucros robustos no longo prazo” Matheus Spiess, analista da Empiricus.

ESTRATÉGIA Como aproveitar essa provável alta? Há diversos caminhos para o ouro, mas o investidor deve ter em mente que esse é um mercado frequentado principalmente por profissionais. Ou seja, as oscilações e solavancos ocorrem sem aviso prévio. Quem quiser delegar o problema pode optar pelos fundos de investimento dedicados ao metal

A alternativa mais barata é o e Exchange Traded Fund (ETF) de ouro lançado pela XP Investimentos e negociado na B3 com o código GOLD11. Sua vantagem é o baixo custo de entrada. O investidor pode começar a testar o mercado comprando apenas uma cota, negociada por cerca de R$ 10.

O investidor que preferir um contato mais próximo com o brilho do ouro pode comprar contratos futuros do metal negociados na B3. Para isso, é preciso estar cadastrado em uma corretora ou plataforma de negociação e se habilitar para transacionar com derivativos. “Atualmente, o menor contrato de ouro negociado na Bolsa custa cerca de R$ 2,9 mil”, disse Varejão. “Esse investimento segue a variação do ouro em dólares. Assim, além de investir no ouro, o investidor também estará comprando um ativo indexado ao dólar.”

Spiess, da Empiricus, indica o ETF de ouro IAU, negociado em Nova York. A desvantagem é o preço: cada contrato custa US$ 173 mil e é preciso ter uma conta ou em uma corretora americana ou em uma empresa brasileira autorizada a operar em Wall Street. Os especialistas não recomendam a compra direta do ouro, pois o metal físico é pouco negociado, e essa liquidez baixíssima dificulta os negócios.