A conjugação entre a queda da bolsa e a perspectiva de alta da inflação e dos juros vem levando muitos investidores para a renda fixa. As alternativas mais conhecidas são os fundos e títulos como Certificados de Depósito Bancário (CDB). Porém, uma modalidade menos popular, as debêntures, vem proporcionando bons rendimentos e atraindo mais aplicadores.

Esses papéis são títulos de dívida emitidos por empresas. Têm de ser companhias abertas, mas não precisam necessariamente ter suas ações listadas em bolsa. O aumento da demanda vem elevando as emissões. No fim de junho, a empresa de telefonia Vivo informou que vai captar R$ 3,5 bilhões por meio de debêntures com metas ESG. Não é a única a fazer isso. A Unicoba, que produz baterias, captou R$ 125 milhões com um título semelhante.

Segundo os especialistas, muitos investidores já possuem debêntures em seu patrimônio, ainda que sem saber. Boa parte dos fundos de renda fixa da categoria crédito privado investe nesses papéis. A diversificação é adquirir os títulos diretamente. Segundo o executivo do Banco Master Investimentos, Maurício Quadrado, as debêntures de infraestrutura são ótima alternativa para o investidor que optar pela compra direta. “Elas são isentas de imposto de renda, o que pode aumentar os rendimentos em até 20%”, disse ele.

A DINHEIRO consultou analistas de investimentos. Todos recomendaram papéis atrelados à variação da inflação medida pelo IPCA. Esses títulos também pagam juros, o que garante tanto a remuneração do capital do investidor quanto a preservação do poder de compra no decorrer do tempo. “A inflação é algo persistente na história brasileira, por isso as indicadas possuem um rendimento percentual ao ano mais a inflação medida pelo IPCA”, disse o analista de renda variável da Nova Futura André Alírio. Ele recomendou papéis de grandes empresas, como Petrobras (PETR27) e Vale (VALE28). O papel da mineradora tem rentabilidade de 6,57% mais inflação. Já o da Petrobras paga 3,9% acima da inflação.

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“Pessoas físicas não devem comprar debêntures com prazos mais longos que cinco anos” Maurício Quadrado, executivo do Banco Master de Investimentos.

O analista de renda fixa da Ativa Investimentos Bruno Brostoline também recomendou títulos que são isentos de imposto de renda. Dois deles são de prazos mais curtos: uma debênture emitida pela Usina Santa Adélia, que vence em fevereiro de 2028 e promete pagar inflação mais 6,88% ao ano. E um título da empresa de telecomunicações Brisanet, que vencerá em março de 2028 e paga 5,75% ao ano acima do IPCA, além de 5,75% ao ano. Para quem tem menos pressa, uma sugestão é um título que vencerá em julho de 2034 emitido pela concessionária de rodovias Rota das Bandeiras (CBAN12). A remuneração é de 5% acima do IPCA. Já àqueles que querem se ater a papéis de curto prazo, Alírio, da Nova Futura, recomenda um título emitido pela Comgás, que paga IPCA mais 5,86% ao ano e vence em dezembro de 2023, e uma debênture da Light, que vence em outubro deste ano e pode render IPCA mais 7,43%.

RISCOS A rentabilidade é reforçada e as empresas emissoras são companhias grandes, o que tende a reduzir o risco. Porém, há alguns pontos para os quais o investidor deve ficar atento. O primeiro é o risco. Debêntures são dívidas privadas de empresas. Ao contrário dos CDBs e de títulos bancários isentos, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), esses papéis não são garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Assim, se a empresa tiver dificuldades financeiras, o investidor não tem nenhuma proteção para o investimento.

Outra questão é a liquidez. Apesar de as debêntures estarem se tornando mais populares, os prazos ainda são longos e há poucos negócios. Se precisar do dinheiro antes da hora, o investidor terá de tentar vender o título no mercado secundário. “O investidor pode sair no lucro ou no prejuízo”, disse Brostoline, da Ativa Investimentos. Quadrado, do Master, não recomenda papéis mais longos. “Pessoas físicas não devem comprar debênture com prazos maiores que cinco anos. O investidor até pode conseguir vender, mas a liquidez não é igual à de uma ação na Bolsa.”