Em 2020, o mercado mundial da cannabis legalizada deu um salto de 48%, passando de US$ 14,4 bilhões para US$ 21,3 bilhões. E esse valor pode aumentar mais de 160% até 2026, conforme estimativas da consultoria norte-americana BDSA, especializada neste mercado. Os números podem ser ainda maiores se for considerada a entrada de novos consumidores na conta. No dia 8 de junho o Brasil aprovou o Projeto de Lei nº 399/2015, que autoriza a fabricação e a comercialização de medicamentos e produtos à base de cannabis no País, reduzindo a necessidade de importação do canabidiol (CBD).

Essa decisão vai em linha com um movimento global. Nos Estados Unidos, no fim de março, o governo de Nova York aprovou a legalização para uso recreativo no estado, seguindo uma onda de liberalização. Todos os 50 estados norte-americanos relaxaram as restrições ao uso da substância. Destes, 36 autorizam apenas utilização medicinal e 14 permitem também o uso recreativo. O Canadá também já aprovou o uso da cannabis. Todo esse movimento reacendeu o interesse da indústria e do mercado financeiro, movimento amplificado pelo ambiente de liquidez elevada. Segundo o sócio e fundador da gestora de recursos Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti, o momento dos investimentos em cannabis é muito parecido com o dos criptoativos. “A liquidez maior e a liberalização regulatória vêm beneficiando todos os ativos alternativos”, afirmou.

Bruno Fujii

“Investir está muito fácil, mas é preciso ficar atento porque é um negócio de médio e longo prazo” Darwin Ribeiro, fundador da plataforma Medicina In.

De olho neste potencial, multiplicam-se as oportunidades de investimentos, que não estão restritas ao mercado americano. Desde 2019, os investidores brasileiros já podem aplicar em fundos que tenham projetos de cannabis como foco, sem ter de abrir conta em uma corretora estrangeira. “A XP lançou um fundo que investe em empresas envolvidas nessa cadeia listadas na bolsa americana”, disse Marcatti. O fundo investe em cotas de Exchange Traded Funds (ETF). Com a crise, as cotações desses ativos caíram. No entanto, a vitória de Joe Biden no fim do ano passado reanimou os investidores, pois o presidente democrata é mais progressista e menos crítico ao uso da substância. “No Brasil, com a aprovação, cada vez mais médicos irão recomendar o uso da cannabis, especialmente para problemas psiquiátricos e de dor”, afirmou Marcatti. No entanto, ele alerta os clientes que os ativos alternativos podem apresentar oscilações muito maiores do que a média. “Mostramos o potencial para o cliente, mas alertamos para ele investir uma fatia pequena de seu patrimônio.”

Para o fundador da plataforma Medicina In, Darwin Ribeiro, o potencial desse mercado é inegável. A Medicina In conecta pacientes necessitados do canabidiol (princípio ativo não-alucinógeno da planta, que tem propriedades medicinais) com os médicos dispostos a prescrevê-lo. No entanto, Ribeiro avalia que tudo isso vai levar tempo, pois ainda há preconceito em relação às propriedades medicinais da cannabis. Segundo ele, diferentemente dos opiáceos, que foram sintetizados pela indústria farmacêutica com garantia da propriedade intelectual, os laboratórios não conseguiram fazer o mesmo com a cannabis. Ela terá de ser vista como um fitoterápico ou suplemento alimentar. “Além disso, a dosagem tem de ser calibrada individualmente, porque depende do funcionamento do sistema endocanabinóide de cada um, o que impede a massificação do medicamento.”

Segundo Ribeiro, além de investir diretamente em empresas listadas, os grandes investidores estão fazendo aportes em companhias de capital fechado. Para os investidores menores ainda há possibilidade de abrir conta em corretora americana ou brasileira que invistam nos Estados Unidos. Também existem os fundos de investimento ativos e passivos que se concentram nesse setor. “Está tão fácil que num clique o investidor pode fazer os aportes em empresas de cannabis, mas é preciso ficar atento, porque este é um investimento de médio e longo prazo, com alta volatilidade”, afirmou. A expectativa do setor agora é com a aprovação, nos Estados Unidos, de uma lei nacional que permita que essas empresas tenham conta em banco. “Por incrível que pareça, existem muitas legislações estaduais que impedem que algumas empresas ligadas à cannabis tenham conta corrente, o que obriga muitos comerciantes a guardar dinheiro vivo na loja”, afirmou.