Investigadores da ONU acusaram, nesta segunda-feira (2), Moscou de crimes de guerra relacionados aos seus ataques aéreos na Síria e alertaram que Ancara pode ser responsabilizada por crimes de guerra contra os curdos no norte do país.

Essas acusações, feitas num contexto de fortes tensões entre a Turquia e as forças sírias apoiadas pela Rússia após uma escalada das hostilidades em Idlib, não estão diretamente ligadas aos recentes confrontos.

Em um relatório divulgado nesta segunda, que cobre o período de julho de 2019 a 10 de janeiro, a Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria (COI) afirma ter encontrado evidências do envolvimento de aviões russos em dois ataques aéreos em Idlib e na campanha de Damasco em julho e agosto, que deixaram mais de 60 mortos.

“A Comissão concluiu que um avião russo participou de cada incidente”, declarou, acrescentando que “a força aérea russa não direcionou os ataques a um alvo militar específico, o que equivale ao crime de guerra que consiste em lançar ataques indiscriminados a áreas civis”.

O relatório também aponta que a Turquia pode ser responsabilizada criminalmente por graves violações cometidas por seus aliados do Exército Nacional Sírio (rebeldes pró-turcos), incluindo a execução de uma autoridade política curda.

As tropas turcas e seus aliados na Síria invadiram parte do norte da Síria depois de lançar uma campanha militar contra as forças curdas em outubro, o que causou a fuga de dezenas de milhares de pessoas.

– ‘Pilhagem’ –

Em seu relatório, a COI, criada em 2011 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, refere-se aos testemunhos de famílias curdas deslocadas e de outros civis que acusaram os rebeldes sírios apoiados por Ancara de cometer execuções e pilhagens, e de confiscar propriedades.

A COI aponta, em particular, a execução sumária em 12 de outubro de uma líder política curda, Hevrin Khalaf, e de seu motorista, por rebeldes pró-turcos.

A secretária geral do partido Futuro da Síria, membro da liderança do Conselho Democrático da Síria, tinha 35 anos quando foi parada em uma estrada em Qamishli por membros da Brigada 123 do Exército Nacional Sírio.

Eles a arrastaram para fora do carro pelos cabelos e mutilaram seu corpo antes de executá-la, de acordo com a COI.

Os investigadores da ONU evocam “assassinatos” e “saques” cometidos por combatentes do Exército Nacional Sírio.

“Se for confirmado que membros de grupos armados agiram sob o comando e controle efetivo das forças turcas, essas violações poderiam resultar na responsabilidade criminal dos comandantes que sabiam ou deveriam saber sobre esses crimes, ou não tomaram todas as medidas necessárias para evitá-los “, afirma o relatório.

Os investigadores da ONU também apontam para um ataque aéreo em 12 de outubro contra um comboio civil de 80 veículos, incluindo famílias com crianças e jornalistas. Onze pessoas foram mortas e 74 feridas.

E denunciam ataques a “alvos necessários para a sobrevivência da população civil”, como os bombardeios perto da estação de água de Aluk, que interromperam o fornecimento de água para 460.000 pessoas.

A COI acusou em vários ocasiões as diferentes partes de terem cometido crimes de guerra e, em alguns casos, crimes contra a humanidade.

Desencadeada em março de 2011, a revolta contra o poder na Síria se transformou em uma guerra devastadora. Mais de 380.000 pessoas morreram, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).