Desde o fim de 2009, o administrador hospitalar baiano Gustavo Coelho, 30 anos, incorporou novos hábitos à sua rotina em Salvador. Além das visitas à academia, dos jogos de futebol e das viagens periódicas com os amigos ao Recife e a Natal, Coelho passou a investir em ações. Depois de fazer um curso de iniciação promovido pela corretora XP Investimentos, ele passou a dedicar parte de seu patrimônio à renda variável. Petrobras, as siderúrgicas Gerdau e Usiminas, o frigorífico JBS e a construtora PDG estão entre as ações adquiridas por ele. “Compro até R$ 3.000 por mês de ações de primeira linha”, diz. Muitos de seus conterrâneos têm feito o mesmo nos últimos tempos. Hoje, 14 mil investidores com domicílio na Bahia estão cadastrados na BM&FBovespa.

 

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O baiano Coelho: o administrador hospitalar de 30 anos acrescentou os 
investimentos em ações à sua rotina de futebol, academia e viagens a Natal e ao Recife  

 

A fatia de investidores “fora do eixo” dos Estados das regiões Sudeste e Sul do Brasil triplicou em quatro anos, crescendo de 5% em 2006 para mais de 15% em 2010 (observe o gráfico abaixo). O número de investidores que moram em regiões sem tradição de aplicar em bolsa ainda não é vistoso quando comparado aos quase 600 mil brasileiros que investem em ações. No entanto, o potencial desses mercados faz brilhar os olhos dos empresários do setor. 

 

Investidores com o perfil de Coelho – numa fase da vida em que estão formando patrimônio, sem conhecimento prévio do mercado acionário e em regiões de economia dinâmica – são o novo alvo de bancos e corretoras. “Hoje há muito mais possibilidade de crescimento nos Estados do Norte e Nordeste do que no Sudeste”, diz Gabriel Leal, sócio da XP Educação, ligada à XP Investimentos.

 

Conquistar esses novos clientes não é uma tarefa fácil, mas é considerado muito recompensador. “O crescimento dos negócios começa pela educação financeira dos investidores nas regiões onde ainda não há uma cultura de bolsa”, diz Thiago Audi, responsável pela expansão geográfica da Um Investimentos, que possui 28 mil clientes espalhados por 40 cidades. 

 

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Esse número deverá crescer para 55 municípios até o fim do ano. Até dezembro, estão programadas as inaugurações de escritórios em Campo Grande (MS), Sorriso (MT) e Barra do Garça (GO). Para ele, o fato de a base de clientes ser pequena não é um problema. O pioneirismo tem grandes vantagens. 

 

Um bom exemplo é Tocantins. O Estado tem um dos menores universos de clientes, com apenas 561 investidores cadastrados. No entanto, como a base é pequena, seu crescimento é muito acelerado: no ano, o avanço foi de 17%, ante meros 5% em São Paulo. A Um Investimentos tem 76 clientes em Tocantins.

 

Parece um número irrisório, mas, de cada sete tocantinenses que investem em ações, um deles o faz por meio da Um. Para Audi, é um excelente começo. Em média, eles possuem entre R$ 50 mil e R$ 150 mil para investir, e esse patrimônio deve aumentar  nos próximos anos. 

 

“Palmas é uma cidade cuja economia está crescendo rapidamente e os salários são altos”, diz ele. Quem chegar primeiro vai cativar os melhores clientes e crescer com o lugar. “Se fizermos um trabalho inicial benfeito junto aos investidores locais, ganharemos a cidade”, diz Audi.

 

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Francisco Moreira: boa parte da renda mensal do contador cearense vem das ações

 

Para driblar os custos maiores de operar longe da matriz, as corretoras dividem os gastos com representantes locais, os chamados agentes autônomos de investimentos. Em geral profissionais bem relacionados na comunidade, esses agentes são a voz, os olhos e ouvidos da corretora. Foi assim que a consultoria de investimentos baiana Futura Investimentos ampliou sua atuação para outros Estados do Nordeste.

 

“Havia uma demanda que não era suprida pelos grandes bancos”, diz Daniel Almeida, sócio da instituição. Em 2005, a Futura passou a oferecer cursos de formação de investidores, pelos quais já passaram quatro mil pessoas. O contabilista cearense Francisco Pinheiro Moreira Júnior foi um deles. Hoje, boa parte dos R$ 9 mil de sua renda mensal vem da gestão de sua carteira de ações. “Começo a ler notícias logo cedo e participo de bate-papos pela internet todas as manhãs”, diz Moreira. 

 

A possibilidade de as corretoras encontrarem alguns milhares como ele Brasil afora é grande. O projeto de popularização da bolsa visa elevar o número de investidores para cinco milhões de pessoas. Supondo-se que os investidores fora do eixo representem conservadores 20% do total nacional, há um universo de um milhão de pessoas a conquistar, todas em regiões onde a concorrência é fraca. “O mercado potencial fora do eixo é maior do que o universo de todos os investidores hoje”, diz Almeida.