O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, diz não ter dúvidas de que o Congresso vai aprovar a reforma da Previdência no próximo ano, uma vez que os novos parlamentares sabem da importância disso para o País voltar a crescer. Segundo ele, se o País conseguir convencer os investidores estrangeiros de que é seguro investir aqui, o capital estrangeiro está pronto para vir para cá.

A reforma da Previdência tem sido apontada quase unanimemente como a principal mudança a ser feita pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro. O sr. acredita que o novo governo terá capacidade política para construir um consenso e aprovar essa reforma?

Não tenho dúvida. Não é uma vontade só do próximo governo. O próprio Congresso foi bastante renovado e esses novos parlamentares sabem das necessidades para que o País vá bem. Para que as pessoas possam ter uma aposentadoria digna e os problemas da Previdência sejam resolvidos, o País precisa ir bem. Há uma conjunção de necessidades, fatores, ideias e desejos de toda a população brasileira. A negociação faz parte da democracia e vai se chegar a bom termo para o que o Brasil precisa.

O que é preciso para que a reforma seja aprovada?

Tem de ter cuidado para respeitar os direitos adquiridos das pessoas e fazer o que for necessário para estancar este déficit bilionário, mas olhando muito para a população mais carente, que vive com o salário mínimo, e que tem esses recursos como a única fonte de renda para sua sobrevivência. Mas acho que as pessoas que estão olhando isso estão muito cientes desse tipo de preocupação, sobre a forma como fazer a reforma da Previdência, pois é um assunto extremamente sério. E é preciso haver investimentos para que surja outra forma de Previdência, com os planos privados.

Que efeito isso poderia trazer para a economia?

Esse é o remédio ideal para que a economia possa manter uma trajetória de crescimento por muitos anos. Não podemos viver, principalmente com expansão do PIB, com tanta volatilidade: um ano cresce, o outro não cresce.

Que avaliação o sr. faz da atual equipe econômico e a agenda que adotou para o País?

A equipe econômica que temos hoje, sobretudo no Banco Central, cumpriu com maestria seu papel. Ilan Goldfajn é um grande técnico e altamente qualificado.

O sr. defende que ele continue na presidência do Banco Central?

Se for desejo dele, eu acho que ele vem fazendo um trabalho muito bom. Ele tem a confiança dos mercados, fez um trabalho árduo para poder ajustar o Brasil, mesmo nos momentos de crise mais severa, pois cumpriu bem o papel dele na condução da política monetária e combate à inflação. Tenho grande admiração pelo trabalho dele e da sua equipe. Tendo isso em perspectiva, as medidas que serão tomadas na nova fase da economia brasileira pela nova equipe econômica, o caminho está dado. Temos uma chance muito grande de ter muito sucesso.

Que avaliação o sr. faz dos nomes da nova equipe econômica conhecidos até aqui, Paulo Guedes como ministro da Economia e Joaquim Levy na presidência do BNDES?

Joaquim Levy é um técnico de primeiro time, respeitado pelo mercado, inclusive internacional, é uma pessoas extremamente qualificada. O Paulo Guedes já se mostrou um economista de grandes ideias, um catedrático extremamente competente e, pelo que vimos ele falar, as ideias que ele vem pregando nada diferem do que o povo brasileiro gostaria de ver de fato acontecendo.

Mas o que seria necessário para que a aplicação dessas ideias no Brasil viabilizem efetivamente a expansão dos investimentos, sobretudo em infraestrutura?

A ponte necessária para avançar os investimentos em infraestrutura é a confiança do capital estrangeiro para aplicar capitais no País. Ouvimos e vemos o interesse no País de vários fundos de investimentos e empresas estrangeiras, como é o caso do acordo da Boeing com a Embraer. Isso não é obra do acaso. É competência das empresas nacionais, o que é um só exemplo. Com a confiança do respeito aos contratos, regras estabelecidas, aquilo que foi acertado de investimento, respeitada a regra do jogo, eu tenho certeza, o Brasil é um grande país para se investir.

Quando esse aumento do investimento em infraestrutura poderia ocorrer?

Já agora, em 2019. O mercado internacional está muito líquido, tem capital, certamente o investidor estrangeiro virá para o País.

A privatização, nesse contexto, faz sentido?

Sim, as empresas que não fazem sentido estarem na mão do governo podem ser privatizadas. O importante é que a empresa seja rentável, pague impostos, para que o País possa avançar.

Como o sr. avalia o atual patamar do câmbio?

Agora sim, acho que está num nível razoável. Chegou a bater R$ 4,20 e agora voltou para uma marca entre R$ 3,70 e R$ 3,75. É o câmbio ideal. É claro que, à medida que o Pais vá crescendo e outras forças atuem, ele vá se apreciando, mas dentro de uma normalidade que ocorre em qualquer economia no mundo e em momentos de crescimento e melhoria dos fundamentos econômicos.

O Bradesco espera avançar a concessão de crédito no próximo ano?

Por conta da situação da economia nos últimos anos, o crédito se reduziu por si só. Mas como vemos agora uma redução contundente da inadimplência, da micro à média empresa, até às pessoas físicas, as novas safras de concessão de crédito que apuramos mês a mês cada vez estão com qualidade melhor. E com esse fato de um lado, e o País crescendo, o Bradesco tem apetite por mais concessão de crédito, pois é mola propulsora importante dos resultados de qualquer banco. O Bradesco está muito bem neste ano no crescimento de crédito e nossa expectativa é de ter mais apetite.

Quanto o sr. acha que deve crescer a concessão total de crédito pelo Bradesco em 2019?

Neste ano, devemos crescer de 4% a 7%, mas a expectativa para o ano que vem, se as coisas melhorares, é crescer quem sabe dois dígitos. O crédito imobiliário tem registrado expansão de dois dígitos há mais de cinco anos. No caso da micro e pequena empresa, a expectativa é de que cresça de 9% a 10%. No caso das pessoas físicas, dependendo da volta do ritmo da geração de emprego, também deve crescer dois dígitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.