O número de brasileiros vivendo em Portugal bateu recorde este ano. São 183.993 residentes legais emigrados do Brasil. O número representa 27,8% do total dos expatriados e compõe o maior grupo de imigrantes no país. Até pouco tempo, a maior parte desse contingente era de aposentados, estudantes e investidores. Gente que se vale de uma renda garantida no país de origem para que as portas da imigração europeia se abram mais facilmente. Agora, a esses perfis soma-se uma nova onda de profissionais que escolheram mudar de endereço: os empreendedores. Na maioria dos casos, de pequeno porte.

O brasiliense Adriel Oliveira, 32 anos, é um deles. Desembarcou em Portugal há três anos para apresentar a Shimejito, empresa de tecnologia de produção de biofertilizantes e cogumelos, durante a Web Summit, a maior conferência de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa. O sucesso da startup no evento foi imediato, atraindo o interesse de investidores de Portugal e de outras partes do mundo. A decisão de se radicar no país

foi tomada por Oliveira em poucas semanas. “Portugal está aberto a inovações, dispõe de diversos programas de apoio financeiro e tem um hub pulsante. O fato de falarmos o mesmo idioma também ajuda muito”, afirmou.

A Shimejito iniciou uma campanha de crowdfunding, por meio do site, para sua nova planta na zona industrial de Castelo Branco. A proposta da empresa é oferecer tecnologia para qualquer pessoa produzir, em estufas, até 6 toneladas de cogumelos por ano, em uma área mínima de 70 m2. “Já firmamos consultorias na Alemanha, Espanha e França”, disse. Segundo ele, o modelo de negócio é de baixo risco. “Registramos receita de 800 mil euros em 2020 e projetamos, para este ano, movimentar 2 milhões de euros.”

O pernambucano Leonardo Mariano, de 43 anos, trabalhava como executivo de finanças em São José dos Campos (SP) antes de se mudar para Portugal, em 2019. Hoje, é dono da Breakfastaway, empresa de entrega de alimentos para a primeira refeição do dia — o café da manhã, que os portugueses chamam de pequeno almoço. Depois de o projeto ter sido aceito por uma incubadora, o empreendedor recebeu aporte inicial de 20 mil euros e um ano de capacitação. “O boca a boca positivo de nossos clientes particulares nos levou, surpreendentemente, aos ouvidos de grandes empresas. Vamos fechar este ano com um faturamento de 360 mil euros”, afirmou Mariano. Hoje, o café da manhã customizado da Breakfastway chega às casas de funcionários que trabalham em home office para DHL, Google, Lenovo, Mastercard e Mercedes-Benz em todo o país. “Nosso diferencial é usar produtos regionais, sempre frescos. O pão, por exemplo, chega ainda quente às mãos do cliente.”

MODA Para a paulistana Fabiana Thorres, de 49 anos, o investimento partiu de um investidor-anjo. Ela se mudou para Portugal disposta a prestar consultoria para marcas do setor de moda, sua área de formação e na qual tem de mais de 25 anos de experiência. A ideia vingou quando conheceu o empresário brasileiro radicado em Portugal Silvio Korich, proprietário da Matic, uma das maiores confecções do país. “Falei sobre meu desejo de abrir uma confecção. Para minha surpresa, ele decidiu investir na ideia”, disse. O aporte na F Thorres foi de 10 mil euros, além de 12 máquinas de costura industriais.

Quando a pandemia chegou, produção se voltou para máscaras certificadas contra a Covid-19. Com exportações para Suíça e Alemanha, o faturamento mensal chegou a 75 mil euros. “Passamos, também, a confeccionar moda fitness sustentável para a marca portuguesa Greenfits e, paralelamente, abrimos um showroom onde apresentamos marcas de Portugal e do Brasil à clientela daqui e dos demais países da União Europeia”, afirmou Fabiana.

Para os três empreendedores que encontraram seus negócios de nicho, as perspectivas são animadoras. Até porque a economia de Portugal tem crescido acima da média dos países da União Europeia. Enquanto o crescimento total do bloco no segundo trimestre foi de apenas 2% na comparação com 2020, o PIB português teve alta de 4,9%. O bom desempenho tem atraído mais empreendedores. Segundo pesquisa divulgada em agosto pela EWP Business Consulting, o número de novas empresas em Portugal aumentou 5,3% de abril a junho deste ano quando comparado ao trimestre anterior. Foi o segundo maior entre os países da União Europeia, que cresceu em média 1,8%.