Olá, pessoal, tudo bem? Quero deixar claro que considero a agenda econômica do governo Bolsonaro muito boa. A agenda, é claro, foi formulada pelo ministro Paulo Guedes. Esse elogio não me impede de tecer críticas quando o governo erra.

Nos primeiros 100 dias, o governo cometeu alguns equívocos que impactam a área econômica. Cito alguns: a demora na apresentação da (ótima) proposta de reforma da Previdência Social (economia de pouco mais de R$ 1 trilhão em 10 anos); a baixa contribuição dos militares para essa reforma (economia de apenas R$ 10 bilhões em 10 anos); a insistência do Banco Central em não reduzir os juros; a tentativa de mudança da Embaixada do Brasil em Israel, o que gerou problemas com a comunidade árabe (grande importadora de carnes brasileiras); e a promessa de pagar o 13º para o Bolsa Família (populismo eleitoral que antes era criticado no PT), dentre outros exemplos.

Nenhum erro, no entanto, supera a canelada dada por Bolsonaro na Petrobras no centésimo primeiro dia de governo. Em tempo: canelada é um termo futebolístico que o próprio presidente da República usa quando se refere a problemas.

A empresa, cujos papeis são negociados no Brasil e nos Estados Unidos, foi obrigada a adiar um reajuste de 5,7% no preço do diesel. Sob pressão dos caminhoneiros, o presidente Bolsonaro ligou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, assim que soube da notícia.

A petroleira argumentou que ainda tinha fôlego financeiro, através de sua posição de hedge (proteção), para segurar um pouco mais o preço do combustível. Pode até ser verdade, mas o estrago foi feito. As ações despencaram 8% nesta sexta-feira 12 diante do fantasma da intervenção política, que assombrou o País durante o Governo Dilma.

Bolsonaro salientou, horas mais tarde, que não entende de economia. Não entende, mas sequer consultou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que foi pego de surpresa em viagem aos Estados Unidos.

Na terça-feira 16, haverá reunião no Palácio do Planalto com todos os atores envolvidos. O resultado final pode amenizar o erro (se Bolsonaro voltar atrás) ou piorá-lo (se mantiver a proibição), mas jamais irá apagá-lo.

Na campanha, Bolsonaro foi acusado de ter sido um deputado federal estatista durante 28 anos, embora se apresentasse como um presidenciável liberal. Ao subir a rampa do Palácio do Planalto, resolveu apoiar a (excelente) ideia de tornar o Banco Central formalmente independente. Postura bem liberal. Mas, surpreendentemente, deu a sua maior canelada até agora ao interferir na Petrobras.

Afinal de contas, o governo Bolsonaro quer entrar para a história com qual bandeira? A única certeza que o mercado financeiro tem é de que o ministro Paulo Guedes só aceita empunhar a bandeira liberal. Se for para repetir a agenda do governo Dilma, é melhor o presidente Bolsonaro começar a repensar a sua equipe econômica.

Nos próximos dias, acredito, ficará claro que foi apenas uma canelada isolada. Um árbitro de futebol daria um cartão amarelo por este lance. Mas, na próxima vez, alguém importante pode sair de campo machucado ou expulso.