Com hospitais lotados e filas de pacientes para internação, prefeituras já transferem doentes com a covid-19 para outras cidades no interior de São Paulo e o Ministério Público decidiu cobrar leitos. Nos últimos 15 dias, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a ocupação de leitos exclusivos subiu de 52,7% para 60,2%, mas em muitas cidades a lotação da rede hospitalar chega a 100%, atingindo picos iguais aos do auge da pandemia.

O Ministério Público de São Paulo mandou a prefeitura de Presidente Prudente, no oeste paulista, contratar leitos em hospitais da região para garantir o atendimento a pacientes acometidos pela covid-19. Na manhã desta quarta-feira, 16, 12 pessoas com o coronavírus aguardavam vagas para internação em hospitais da cidade, que estavam lotados. No dia anterior, a cidade havia registrado 55 novos casos de covid e um recorde no número de pessoas internadas – 79 pacientes, dos quais 29 em UTI.

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Conforme o promotor Marcelo Creste, as enfermarias do Hospital Regional e da Santa Casa de Presidente Prudente tinham atingido a ocupação máxima. “É sabido que o município não tem hospital próprio e tampouco criou leitos clínicos para o enfrentamento da covid-19, ao contrário de outros municípios, como Dracena. Também não instalou hospital de campanha”, disse. O promotor determinou que a prefeitura faça uso de verba federal já liberada para enfrentamento da pandemia, ampliando a oferta de leitos à população.

Anteontem, Sorocaba tinha 41 pacientes com covid internados, 28 deles em UTI. Pela manhã, 12 infectados eram mantidos em estabilidade na rede pré-hospitalar municipal aguardando internação, dois deles com indicação para UTI. À tarde, apenas um conseguiu vaga. O hospital Adib Jatene, mantido pelo Estado, tinha 100% de leitos de UTI ocupados, e a enfermaria da Santa Casa, vinculada à prefeitura, já estava com capacidade máxima.

A prefeitura de Indaiatuba contratou oito leitos para covid-19 no Hospital Samaritano de Campinas, mas todos estavam ocupados. O município foi obrigado a acionar a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) do governo estadual na segunda-feira.

A Santa Casa de Birigui registrou, na terça, 100% de ocupação dos 22 leitos de UTI e enfermaria. A prefeitura deixou de prontidão a Santa Casa de Araçatuba e o Hospital de Campanha de Penápolis para receber transferências de novos casos de internação. Também estavam com 100% dos leitos para covid-19 as Santas Casas de Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo e Lins. No Hospital das Clínicas de Botucatu, que é público e referência para covid-19 na região, a ocupação de leitos voltou ao patamar de julho. Na segunda, a taxa chegou a 87%, com 42 pacientes internados.

Receio

Na manhã de terça-feira, o emergencista Leandro Fonseca, de 40 anos, foi acordado com uma notícia triste. Sua colega de plantões em um hospital de Itu tinha acabado de morrer. “Ela trabalhava bastante e se cuidava, como cuidava da família, mesmo assim se contaminou. É desanimador ver quantas pessoas a gente continua perdendo.”

O profissional da saúde disse que os hospitais já estão lotados e acha que a situação, que já está bem ruim, pode piorar. “Hoje trabalhei em dois hospitais, a Santa Casa de Piedade e o Evangélico de Sorocaba. Estão lotados. Atendi uns dez pacientes com covid e, se precisasse, não teria como internar.”

Fonseca lamenta que as pessoas não estejam entendendo a gravidade da situação. “Ando pelas ruas de Sorocaba e vejo metade das pessoas sem máscara. Moro próximo da rodovia Raposo Tavares e pertinho de minha casa tem um pessoal que faz samba e pagode todo fim de semana.”

A jornalista Ana Paula Freire, de 48 anos, teve a “sorte” de pegar a covid-19 no início de novembro, quando o repique da doença ainda estava começando. Assim, ela conseguiu vaga no Hospital Evangélico, em Sorocaba, onde mora, e teve alta após cinco dias de internação. Nesta quarta-feira, o hospital particular completava três dias sem vagas para a covid-19.

“Quando eu estava para receber alta, eu já ouvia as enfermeiras falarem ‘Está voltando, está voltando, está tudo cheio de novo’”, diz Ana. “Por isso, agradeci a Deus porque tinha toda aquela estrutura ali. Eu sabia que estava recebendo a intervenção na hora certa e muita gente não teve oportunidade.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.