A compra da Fibria pela Suzano é vista como complexa por integrantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ouvidos pelo Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) sob a condição de anonimato. Um integrante do conselho disse que a operação representará um “desafio” para o órgão.

O caso ainda não foi notificado ao conselho, que terá 240 dias, prorrogáveis por mais 90, para analisar a fusão. Advogados que atuam na área também disseram à reportagem que a operação certamente será analisada com lupa e dificilmente seria aprovada sem nenhuma restrição pelo órgão antitruste.

O veto ou a imposição de fortes restrições ao negócio é uma preocupação das empresas, tanto que o próprio acordo firmado entre elas prevê o pagamento pela Suzano de uma taxa de R$ 750 milhões caso a fusão não possa ser concretizada, por exemplo, por imposição de autoridades antitrustes.

No mês passado, o Cade barrou a compra da Liquigás, detida pela Petrobras, pela Ultragaz. Com isso, o grupo Ultra teve que pagar uma “break-up fee” (multa) de R$ 280 milhões à estatal, até então a maior já paga no Brasil. Em 2017, o órgão também vetou a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga, a do grupo de educação Estácio pela Kroton e a aquisição da Mataboi pelo grupo JBJ.

Celulose

Para a advogada especialista em concorrência Patrícia Agra, as análises do Cade envolvendo o setor de celulose no passado entenderam que o mercado era muito concentrado e com muitas barreiras à entrada, como, por exemplo, a restrição a estrangeiros comprarem terras no Brasil.

No entanto, as operações foram aprovadas porque o conselho acreditou que havia rivalidade entre grandes grupos econômicos com muita expertise nesse mercado, o que garantia a concorrência no mercado. “Nesse caso, são duas gigantes que disputavam entre si. A análise do Cade vai se concentrar no impacto da operação nessa questão, no nível da rivalidade após a fusão”, explicou.

Em entrevista coletiva, o presidente da Suzano, Walter Schalka, procurou minimizar a possibilidade de a aquisição da Fibria, anunciada na sexta, venha a enfrentar restrições de órgãos antitrustes.

Ao tentar afastar a ideia de que a combinação das empresas poderá fortalecer o poder de influência do grupo na dinâmica internacional de preços, o executivo afirmou que a companhia continuará sujeita às forças de oferta e demanda que levaram à “grave volatilidade’ nos preços internacionais da celulose nos últimos anos. Também pontuou que a participação de mercado da Suzano seguirá baixa se consideradas as fibras de diversas origens e assinalou que a empresa enfrenta grandes competidores nos mercados chinês, europeu e americano, de forma que espera concluir a operação sem ter que vender um ativo sequer.

“Não entendemos que seja necessário vender ativos para aprovação. Vendemos commodities que múltiplos players fabricam em condição adequada”, declarou Schalka. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.