Laura Whitten, 35, acordou, pegou o celular e tirou uma selfie ao lado do seu cachorro. “Bom dia”, escreveu ela, em uma mensagem para o namorado. Depois de postada no aplicativo Pigeonly, a imagem viajou até um centro de atendimento de Las Vegas. Lá, foi impressa e colocada em um envelope para a Instituição Federal Correcional de Berlim, em Nova Hampshire. Uma semana depois, a foto finalmente chegou ao destino final: o interno 20274-058. O número é o código de Cedric Benton, 43, no sistema prisional dos Estados Unidos. De dentro de sua cela, ele pode admirar o simpático amanhecer da namorada.

O site Bloomberg fez uma reportagem especial sobre o Pigeonly e outros aplicativos – todos idealizados por ex-presidiários –, que estão revolucionando a comunicação entre detentos e aqueles que ficaram do lado de fora. De formas diferentes, eles atuam como um “Instagram para prisões” e encurtam o contato entre internos, amigos e familiares através de fotos e mensagens.

Detenta observa fotos enviadas por familiares – Ryan Collerd/Bloomberg

O Pigeonly tem uma taxa de US$ 7,99 a US$ 19,99 que permite o envio de fotos e ligações online. O aplicativo conta com 20 funcionários, metade com experiências dentro da prisão. Todos os dias são enviados até quatro mil pedidos para diversas instituições carcerárias do país.

Frederick Hutson, 34 anos, fundou o Pigeonly em 2013, recém-saído de um período de cinco anos em uma prisão federal por tráfico de drogas. “Vi em primeira mão como era difícil e caro manter contato”, diz.

Um ano antes do lançamento do Pigeonly, dois ex-presidiários vindos de diferentes partes dos EUA traçaram ideias semelhantes. Scott Levine foi condenado por roubar informações de uma empresa de gerenciamento de dados e passou mais de cinco anos na Instituição Correcional Federal de Miami.

Na prisão federal, ele pagava 21 centavos por minuto para chamadas de longa distância ou a taxa local de seis centavos por minuto. Depois de ser solto, ele lançou o InmateAid, sistema de ligações online muito mais barato que as chamadas tradicionais.

A startup, financiada e co-fundada pelo filantropo Shawn Friedkin, tornou-se o maior banco de dados on-line de instituições correcionais dos EUA, atendendo a cerca de 1,2 milhão de visitantes e conectando dezenas de milhares de clientes por mês.

“Quando você entra pela primeira vez na prisão, as pessoas mantêm contato por um mês ou mais, e então começam a esquecer”, diz Levine.

Naquele mesmo ano, Marcus Bullock decidiu lançar um aplicativo para ajudá-lo a manter contato com os amigos com os quais ele cresceu atrás das grades, em uma prisão federal de segurança máxima na Virgínia. Bullock foi condenado a oito anos depois de ser pego roubando um carro aos 15 anos de idade.

Centro de triagem de correspondências de uma prisão dos Estados Unidos – Ryan Collerd/Bloomberg

Agora com 37 anos, Bullock dirige o Flikshop, que permite que os usuários enviem um cartão postal com uma foto e mensagem para as prisões por 99 centavos. Ele inicialmente criou o negócio com a ajuda de familiares e amigos, mas desde então tem recebido apoio financeiro de investidores famosos como o Barão Davis, da NBA All Star, e o cantor pop John Legend.

Os aplicativos têm boa aceitação na maioria das prisões do país e se tornaram grandes aliados ao contrabando enviado pelas correspondências tradicionais. Em setembro, a Prisão do Condado de Lancaster, na Pensilvânia, decidiu proibir todos os cartões – que estavam sendo misturados com drogas sintéticas –, menos os que fossem postados pelo Pigeonly. “Esses serviços são ‘ganha-ganha’ para todos”, diz Tammy Moyer, diretora de administração da instalação.

Em um mundo ideal, esses aplicativos não seriam necessários porque a comunicação em prisões seria gratuita – monitorada e limitada, mas gratuita –, diz o diretor executivo do Justice Policy Institute, Marc Schindler. “Esta é uma área que tem espaço para muitas melhorias “, diz ele.