Na última década, o governo brasileiro acatou as demandas que foram exigidas pelo setor privado, como maior protecionismo e com subsídios, e esse movimento não deu certo, disse nesta terça-feira, 21, em apresentação do Congresso Aço Brasil, o presidente do Insper, Marcos Lisboa.

“Nunca vimos políticas tão incompetentes como da última década. É preciso responsabilidade”, disse. Lisboa lembrou, por exemplo, que o governo, no passado, acatou uma demanda do setor privado e interveio no setor elétrico. “Se tentou um atalho e deu errado. Ainda estamos pagando a conta dessa medida”, disse. “Há muitos exemplos de políticas de protecionismo, com subsídios, que deram errado”, completou.

Lisboa destacou que o Brasil não foi bem nos anos de 2000 se comparado ao crescimento do mundo e também em relação aos emergentes. O diferencial fica ainda muito maior se a análise for feita a partir do ano de 2011.

A partir de 2011, de acordo com o presidente do Insper, o Brasil ficou para trás no que diz respeito ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto o mundo crescia 3,5% ao ano, a América Latina crescia 3% e o Brasil crescia apenas 0,4%, se descolando do resto do mundo.

O presidente do Insper disse que a discussão em torno do protecionismo e isonomia da indústria é sempre carregada de muitas paixões, mas que o foco, neste momento, deveria ser na agenda em comum, que seria redução de custos e redução de burocracia, por exemplo.

Para ele, não adianta colocar o câmbio lá embaixo para exportar mais. “Se você exporta mais de um lado, do outro alguém vai ter que importar mais, pagar a conta”, disse Lisboa, para quem o câmbio não é uma variável endógena que pode ser controlada pelo governo.

O exportador brasileiro, de acordo com o presidente do Insper, não concorre com o exportador estrangeiro, mas com seus pares no País. Lisboa criticou também a política adotada pelo governo anterior de repassar dinheiro do BNDES para o setor privado a custos subsidiados. “Políticas de tirar dinheiro do Estado para o setor privado não valem se o resultado social não for maior que o lucro do setor privado”, afirmou.

Ainda segundo o economista, é preciso que se faça urgentemente a reforma tributária, o que, na avaliação dele, imprimirá produtividade à economia. “Temos uma complexidade tributária impensável em outros países. A reforma tributária é uma agenda mais que urgente”, disse.

Outro ponto que precisa ser atacado no Brasil, de acordo com Lisboa, é a agenda em infraestrutura. O produtor paga um grande preço além da burocracia. Não conseguimos ter estradas, portos e ampliar a infraestrutura. Quantos insumos importantes para a pesquisa médica perecíveis são perdidos por conta da falta de infraestrutura e da burocracia?”, questionou.