Viciante: Beverly e Raymond Sackler podem ter iniciado uma epidemia de opioides com a venda do OxyContin

Os inimigos públicos do governo americano costumam ser historicamente foragidos da Justiça: terroristas, mafiosos e criminosos listados no FBI. Mas o governo do presidente Donald Trump agora está enfrentando as consequências das ações de uma família que fez fortuna na indústria farmacêutica, e que é reconhecida como grande mecenas das artes. Os Sackler, cuja fortuna é estimada em US$ 13 bilhões, são responsáveis por doações importantes a grandes museus do mundo. O British Museum, por exemplo, expõe seus milenares objetos da Mesopotâmia e da Anatólia em suas salas batizadas de Galeria Raymond e Beverly Sackler. Tanto o Museu do Louvre, em Paris, quanto o Metropolitan, em Nova York, adotaram o nome da família para alas inteiras.

Nas garras: o governo Trump busca reverter os impactos do vício em analgésicos

No fim de outubro, Trump declarou como emergência de saúde pública nacional a epidemia de overdose por opioides no país. Afinal, segundo os dados oficiais, o consumo de opioides, substâncias similares ao ópio, mas sintéticas, causam 20 mil mortes por ano. Dessa forma, essas drogas se tornaram a principal causa de morte, em 2016, entre pessoas com menos de 50 anos – à frente de ataques do coração, câncer e doenças respiratórias. “Estamos lidando com a maior crise de drogas da história dos EUA”, disse o presidente americano. O que liga as duas histórias? Uma faceta menos conhecida do clã Sackler é a de serem, desde a década de 1950, donos da Purdue Pharma, farmacêutica que faturou US$ 3 bilhões em 2016.

Nas últimas décadas, a companhia teve como grande sucesso comercial o analgésico OxyContin, com base em opioides. O início das vendas, em 1995, é tido como o ponto de partida para a epidemia atual. Para tornar o produto um sucesso, a Purdue conduziu uma agressiva campanha de marketing. Segundo estudo da Universidade de Brown, entre agosto de 2013 e dezembro de 2015, as farmacêuticas direcionaram US$ 46 milhões a 68 mil médicos para refeições, viagens e honorários na divulgação desses remédios.

“Antes do OxyContin, era muito raro os médicos prescreverem opioides para combater a dor, mas a campanha da Purdue Pharma foi tão grande que o produto se converteu num êxito de vendas”, disse, em entrevista à BBC, o professor de epidemiologia Brandon Marshall, que conduziu o estudo da Brown. Desse modo, o remédio foi receitado de forma indiscriminada. Apenas em 2012, foram mais de 282 milhões de receitas de analgésicos opioides, um frasco para cada habitante. Como os medicamentos podem custar US$ 200 por dia, muitos usuários migraram para a heroína. O mal dessas pessoas, agora, é uma culpa que pesa sobre o nome da família Sackler, antes relacionado a obras de arte.