No início do ano Arthur Levitt, o presidente da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários americana, anunciou que pretendia tomar medidas drásticas para impedir o tráfico de informação privilegiada em Wall Street. Não estava brincando. No final de outubro ele colocará em vigor um pacote rigorosíssimo, e por conta dele empresas e a Bolsa estão em polvorosa. A regulamentação de Levitt prevê que nenhuma companhia poderá prestar ?informação relevante? a nenhum agente do mercado, a não ser que a divulgue, simultaneamente, para todos os outros. A idéia era evitar manipulação de ações e favorecimento de alguns analistas e investidores em detrimento de outros. Para os infratores haverá punições duras, que incluem a proibição de operar em bolsa, multas e até processos de responsabilidade civil. José Luiz Osório, presidente da CVM brasileira, já comentou que pretende anunciar regras semelhantes. Vale a pena esperar um pouco e ver o que está acontecendo nos Estados Unidos.

A curto prazo, o resultado do pacote parece ser exatamente o contrário do que Levitt esperava: uma pesquisa feita pelo Niri (Instituto Nacional de Relações com os Investidores) apontou que 42% das companhias iriam, em conseqüência da regra, ?limitar sua comunicação com analistas?. Ou seja, passarão a atuar com menos transparência do que faziam anteriormente. A retração acontece porque ninguém sabe ao certo como se comportar. A SEC já explicou, por exemplo, que entrevistas a jornalistas não estão sujeitas a restrições, mas conversas com analistas estão. Para quem precisa tomar decisões diárias, de mercado, e sob pressão, a busca de uma informação poderá se tornar bem mais difícil.

?Se eu telefonar para um amigo numa companhia aberta e perguntar ?como estão as coisas?, e ele me responder ?poderiam estar melhores?, será preciso enviar um comunicado ao mercado sobre isso??, ironizou Elliott Rogers, diretor do Credit Suisse First Boston em Nova York. Há dúvidas entre os analistas. Ao receber um relatório, por exemplo, será possível ligar para alguém na empresa e fazer perguntas detalhadas? Já se desconfia que companhias menos transparentes poderão se esconder por trás da regulamentação, alegando que não podem falar sobre algum assunto. As dúvidas são tantas que o National Investor Relations Institute pediu à SEC que adiasse por alguns meses a aplicação da regra, até que o mercado tenha tempo de analisá-la. ?A maioria das companhias não está preparada para a mudança?, diz Louis Thompson Jr., diretor da entidade.