Executivo da gigante americana Disney fala da nova plataforma Star+ e diz que tecnologia 5G vai melhorar a experiência do consumidor no serviço de streaming no Brasil.

Internet de qualidade é o principal fator para o desenvolvimento do serviço de streaming. E o Brasil pode melhorar com a chegada da tecnologia 5G. Quando chegar. A análise é do executivo argentino Hernán Estrada, que comanda as operações da Disney no Brasil. “É necessário assegurar que a experiência que a gente vai oferecer corra com a qualidade de que precisamos.” A gigante americana acaba de lançar na América Latina, incluindo o Brasil, a plataforma Star+, bem no momento de crescimento na atuação do serviço digital da companhia no País. No segundo trimestre, a Disney foi a única, entre as principais plataformas, que elevou a participação no mercado nacional. Segundo o portal JustWatch, a companhia saltou de 10% para atuais 12% de marketshare e ocupa a terceira posição, atrás de Netflix (31%) e Amazon Prime (24%). Globoplay é o quarto (8%). Dos US$ 17 bilhões do faturamento global entre abril e junho, US$ 4,2 bilhões vieram do streaming. O segmento registrou alta de 57% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando faturou US$ 2,7 bilhões. Em entrevista à DINHEIRO, Estrada conta sobre a estratégia da empresa para crescer ainda mais. “A Disney tem um comprometimento com as preferências do consumidor e não com modelos de negócios ou plataformas. Por isso, streaming virou prioridade.”

DINHEIRO — A Disney lança no Brasil a plataforma Star+ nove meses após trazer o Disney+. Não é pouco tempo de diferença entre os serviços oferecidos?
HERNáN ESTRADA — O consumidor tem mudado sua expectativa de ter acesso aos serviços de streaming e a indústria explodiu. Os principais players do mundo chegaram com propostas bem agressivas. A Disney tem comprometimento com as preferências do consumidor e não com modelos de negócios ou plataformas. Por isso, o streaming virou a nossa prioridade. Temos boas propostas no mercado. Informação com tecnologia virou commodity.

O diferencial estará na qualidade do conteúdo e não na técnica?
O diferencial está na qualidade. Na qualidade das histórias, o nível de engajamento atingido com essas experiências e o quanto isso vai fazer parte da vida das pessoas. Com o sucesso de quase 100 anos (foi criada em outubro de 1923), faz sentido a Disney estar confiante em trazer um valor incomparável para as pessoas. A gente tinha uma ansiedade de trazer a proposta completa do que essa corporação pode oferecer em termos de entretenimento. Tudo que a Disney tem está disponível, incluindo esportes. Não há no mercado algo desse nível de qualidade e abrangência. Os nove meses, na realidade, foram muito longos.

O Star+, então, é para outro público?
É para o público adulto. Por isso a decisão foi criar uma experiência separada do Disney+, independente, mas complementar. No mercado brasileiro, já existe uma aceitação de conteúdos que vieram pela Fox. Star+ vai ser a casa de tudo isso, com o melhor do esporte da ESPN. Estarão disponíveis Libertadores da América, Premier League (liga inglesa), La Liga (espanhola), italiana, NFL, NBA e tudo o que a ESPN tem.

“O Brasil é o maior mercado streaming da América Latina e um dos maiores do mundo, e os players adotam comportamentos diferentes de estratégia” (Crédito:Divulgação)

Com dois serviços de streaming disponíveis em menos de um ano aos brasileiros, como a Disney enxerga a questão do preço? Acha que há espaço para assinatura de duas plataformas da mesma companhia?
As pessoas que já têm Disney+ vão poder optar por um combo, o que vai tornar a proposta mais atrativa, e com o mesmo login, pagando apenas um diferencial. A gente faz o tempo todo as análises de preço. O Brasil é o maior mercado de streaming da América Latina e um dos maiores do mundo. E os players adotam comportamento diferente em termos de estratégia. Alguns adotam o serviço como uma ferramenta para outros negócios. Outros têm o streaming subsidiado, porque precisam do produto. Há diferentes abordagens para preços. Hoje acreditamos que nosso preço é razoável, comparando os serviços da Disney com outros que estão no mercado.

Fato é que as pessoas dificilmente conseguirão assinar todas as plataformas disponíveis no mercado. O que mais vai pesar para o consumidor na hora da escolha?
Preço é importante no curto prazo, quando a indústria está se formando. Quando as pessoas começam a entender os serviços oferecidos e aqueles que escolhem assinar vão adotar como critério mais o conteúdo e a experiência do que o preço. Tenho confiança que qualidade e engajamento são fundamentais para o futuro da indústria do streaming. Precisa haver qualidade e a chegada de novidades para que as pessoas continuem a assistir. É isso que vai definir.

Falando em oferecer novidades, o novo serviço da Disney terá produções locais no Brasil. Isso tem alguma relação com o aumento de séries produzidas exclusivamente para o Globoplay?
A Disney tem produção local e original na América Latina há mais de 20 anos. Temos uma tradição forte e conhecimento importante nesse setor da indústria. Vamos trazer essa biblioteca e essa capacidade de produção para as duas plataformas. Há quantidade significativa de projetos. Somados, Disney+ e Star+ têm, neste momento, 130 produções originais na América Latina. Sem dúvida, a Globo é líder em termos de produções originais locais no Brasil. Temos um bom relacionamento com eles, mas nós não estamos tratando a produção local como algo relacionado à concorrência. Nos canais Disney na TV por assinatura já havia produção nacional. Isso é uma demonstração de como acreditamos na importância da linguagem de conteúdos locais. O consumidor tem pedido conteúdo próprio. Vamos ter séries como How to Be a Carioca, Insânia, O Rei da TV (sobre a história de Silvio Santos), que estão em produção. Também teremos longas com talentos brasileiros. A Disney tem grande experiência com produção de filmes.

Levantamento do portal JustWach mostra que, entre as principais plataformas do Brasil, a Disney foi a única que cresceu no segundo trimestre, alcançando 12% de marketshare, atrás de Netflix e Amazon Prime. Onde a empresa quer chegar?
Não falamos sobre metas, mas temos objetivos bem agressivos. Hoje a corporação está em um patamar grande, com 174 milhões de assinantes no mundo. Desse total, 116 milhões são do Disney+. Nossos objetivos não têm tanto a ver com a concorrência, mas em chegar ao alcance e presença relevante dos lares brasileiros. A gente fazia isso no passado com a TV por assinatura. Hoje vamos ter os dois serviços. Por isso, a gente precisa acompanhar essas mudanças e ser relevantes.

O streaming não vai tirar ainda mais público dos canais por assinatura, que vêm registrando queda nos últimos anos?
Todo mundo na indústria está debatendo sobre o que vai acontecer. Não adianta hoje falar de risco. O consumidor é quem está no controle. Ele vai decidir se retornará ao cinema, se vai continuar com seu serviço de TV paga, se vai ter um, dois ou três serviços de streaming em sua casa.

Nessas horas, como executivo, qual a decisão a ser tomada?
O que a gente precisa é acompanhar a decisão desse cliente e adaptar nossas propostas a essas decisões dos consumidores. Hoje, sem dúvida, o streaming está ocupando um espaço maior de entretenimento na agenda das famílias. Todos esses serviços on-line estão crescendo. Acho que a TV vai continuar tendo um espaço, mas será complementar ao serviço de streaming. Vai seguir tendo lugar.

Quando se fala em streaming, a qualidade de internet é fundamental e o Brasil ainda patina nesse tema. Isso é um ponto de atenção para a Disney?
Esse é um tema muito importante. Temos muitas discussões sobre tecnologia não só em relação ao Brasil, mas para toda a América Latina. Temos buscado assegurar chegar nas casas dos brasileiros com uma experiência de qualidade, dentro dos serviços de banda que a gente tem no País. Estamos tranquilos, em termos de conseguir levar entretenimento, mas claramente todo mundo tem certeza que a curva de qualidade e força do serviço de internet no Brasil vai melhorar. Quando isso acontecer, os serviços de streaming serão bem favorecidos e poderão incorporar funcionalidades, acrescentar outro tipo de definição de imagem. Muitas outras ações que a tecnologia já permite, mas precisamos de uma banda maior. Entendo que isso pode melhorar, mas tenho certeza que a curto prazo não irá atrapalhar a experiência.

“A internet não irá piorar no Brasil. No momento em que melhorar, esses serviços vão trazer coisas novas e com mais qualidade. O 5G vai trazer isso” (Crédito:Istock)

Então, hoje, a internet não preocupa?
A qualidade da internet é uma consideração para o desenho do produto. Para todo mundo, não só a Disney, é necessário entender a infraestrutura disponível. Não dá para desenvolver um serviço sem saber onde ele irá correr. É necessário assegurar que a experiência que a gente vai oferecer corra com a qualidade que precisamos.

O 5G vai conseguir alcançar isso?
A internet não irá piorar no Brasil. No momento em que melhorar, eu acredito que esses serviços de streaming vão trazer coisas novas e com mais qualidade aos consumidores. O 5G vai trazer isso.

O Brasil está demorando na chegada do 5G?
Não posso qualificar o tema da tecnologia 5G como demorado no Brasil. Mas, sem dúvida, quando isso chegar ao Brasil vai ser fantástico.

O isolamento social trouxe muita gente para a internet. Com a flexibilização, há risco de o consumo desses serviços cair?
Não acredito que essa seja uma preocupação. Pelo contrário. Todo mundo vai ficar feliz pelo fato de a vida começar a retornar para um ritmo de novo normal. A redução das restrições não é algo negativo para ninguém, nem para os serviços de streaming. Isso é positivo para o bem-estar das pessoas. No momento em que as pessoas se sentem melhor, que a saúde da população está bem e todo mundo começa a ter liberdade para poder fazer o que quiser, para nós isso é muito bom.

O Brasil é uma boa aposta?
Nosso olhar, em termos de corporação, é muito otimista. Em um contexto de bem-estar da sociedade, de retomada, nossas histórias e conteúdos vão se encaixar muito bem com esse momento.